Vidas negras importam: o grito que vem mobilizando o mundo chega a Santa Maria SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 04/06/20 12h28m
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Cidade tem ato em defesa das vidas negras neste domingo, 7, às 15h, na Praça Saldanha Marinho

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Organizadores atentam para medidas sanitárias de segurança em meio à pandemia: máscara, distanciamento e álcool em gel

Há nove dias o mundo assiste às revoltas populares nos Estados Unidos. As imagens de pontes lotadas por manifestantes que se deitam no chão e gritam “I can’t breath [não consigo respirar]”; os cordões feitos por pessoas brancas para protegerem pessoas negras; a insubordinação a um toque de recolher autoritário e a ocupação das ruas como lugar político de luta, denúncia e transformação têm enchido os olhos de jovens e trabalhadores de todos os países. De início, os protestos foram motivados pelo assassinato de George Floyd, um homem negro de 46 anos, pela polícia branca de Minneapolis (Minnesota).

O vídeo que circulou o mundo mostra Floyd imobilizado no chão por Derek Chauvin, policial branco que forçou seu joelho sob o pescoço da vítima por cerca de dez minutos, até que esta morresse. Ao longo de todo esse tempo, Floyd dizia que não conseguia respirar. A exemplo dos Estados Unidos, França, Argentina e Alemanha também registraram manifestações antirracistas. No Brasil, há atos marcados para este domingo, 7 de junho. Em Santa Maria, a mobilização ocorre às 15h na Praça Saldanha Marinho.

Embora o brutal assassinato de Floyd tenha sido o estopim dos protestos, o movimento “Black Lives Matter” [Vidas Negras Importam], fortalecido em 2014 após o assassinato de dois homens negros pela polícia - Michael Brown e Eric Garner, remonta a um passado que não é recente. Gustavo Rocha, o AfroGuga, militante do Movimento Negro Unificado e do coletivo Juntos, lembra que, já na década de 1960, nos Estados Unidos, o grito contra o racismo ecoava com Martin Luther King, Malcolm X e Angela Davis. No Brasil, diz o militante, tal grito também ecoa há muito tempo com Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Carlos Alberto dos Santos (Caó). “Temos nosso Movimento Negro Unificado (MNU) surgindo lá nas escadarias do Teatro Municipal em 1978, quando denunciava o encarceramento em massa, o desemprego atingindo fortemente a população preta, as pessoas em situação de rua, as mazelas dos nossos descendentes de pretos escravizados. Em 78 a abolição não tinha completado nem 100 anos”, diz AfroGuga.

Para ele, o Brasil teve um projeto de abolição projetado para exterminar o povo negro, impondo a continuidade da escravização sob novas roupagens, a exemplo de estratégias que invisibilizam, excluem e matam negros e negras.

“O assassinato brutal de Floyd, somado a esse contexto de turbulências políticas da extrema direita nas Américas, somado à pandemia e ao isolamento, explodiu naquele dia 25 de maio [quando do assassinato de Floyd]. É um grito de socorro de uma população que não consegue mais respirar há muito tempo. É um desabafo e tem uma revolta que é histórica. Entender o “Black Lives Matter” é entender que o racismo é estrutural e não será mais tolerado”, explica o militante.

Como o Brasil enfrenta seu racismo?

Para Isadora Bispo, integrante da Associação Ará Dudu, a violência policial que assassinou George Floyd é intimamente ligada à violência policial que assassina negros e negras no Brasil. Ambas têm um fio condutor: a questão racial.

“O mundo está gritando que o genocídio da população negra tenha um fim. Aconteceu aqui no Brasil com a Marielle Franco, com a Ágatha Félix, com o João Pedro, e aqui pertinho de nós, com o Gustavo Amaral. É por isso que estamos indo às ruas. São 500 anos de repressão, de genocídio da população negra. Não temos como aguentar mais nisso. Nossos irmãos afroamericanos mostraram essa indignação e nos somamos nessa luta”, diz a militante, para quem não é possível discutir a violência sem discutir a questão racial. “Temos uma sociedade que não aceita ainda a presença de negros e negras na edificação desse país”.

Gustavo Amaral foi um jovem santa-mariense de 28 anos morto por um tiro da polícia quando estava indo para o trabalho, na cidade de Marau (RS). O irmão gêmeo de Gustavo, Guilherme Amaral, estará presente na manifestação deste domingo.

AfroGuga lembra que, em fevereiro do ano passado, o Brasil presenciou um assassinato muito parecido ao de George Floyd. Tratava-se de Pedro Henrique Gonzaga, jovem negro de 17 anos assassinado por asfixia por um segurança dentro de uma unidade da rede de supermercados Extra, no Rio de Janeiro.

“Nos falta memória no país. No Brasil, a cada 23 minutos, segundo o Atlas da Violência de 2016, uma vida negra, principalmente de homens negros, é ceifada”, diz AfroGuga, afirmando que, se nos Estados Unidos a polícia se dirige aos bairros habitados majoritariamente por pessoas pretas, o mesmo ocorre no Brasil. “As intervenções militares não estão acontecendo à toa nas comunidades periféricas. O assassinato da nossa vereadora Marielle Franco não é à toa. Por que não fazem isso em Ipanema, Leblon? Por que com os corpos negros? São políticas etnogenocidas, que afetam também nossos irmãos indígenas. São diversos genocídios: é a falta de acesso à saude, à educação, falta tudo. E a bala que encontra esse corpo negro, não por engano, acaba sendo essa última tipificação do genocídio da população negra aqui e lá”.

Por que ir às ruas neste domingo?

Para Isadora Bispo, ir às ruas neste domingo é um ato de extrema importância. “Estamos vivendo um momento difícil causado por uma pandemia, mas a pandemia do genocídio está aí há centena de anos. Então quando a gente tem recorrentes casos aparecendo em todo o mundo não tem como nos calarmos e ficarmos nas nossas casas. Temos que ir às ruas para que as autoridades e o estado brasileiro perceba o quanto ele está sendo negligente frente à população negra. Se existe hoje um Brasil com todo o progresso que se fala, é porque teve muito sangue negro derramado. Ir às ruas é por todos aqueles irmãos e irmãs negros e negras que morreram de forma brutal. Ir às ruas é pedir respeito e dignidade para a população negra. Ir às ruas é de extrema importância para a gente por um fim no racismo estrutural que está em todas as instâncias da nossa vida”, opina a integrante da Associação Ará Dudu.

Guga diz que ir às ruas é uma vergonha “para a sociedade branca que segue excluindo, invisibilizando e matando as pessoas negras”, mas que, para o povo negro, é motivo de orgulho e, também, de sobrevivência.

“O Brasil precisa parar de negar o racismo, o racismo existe, é crime e mata. Santa Maria não vê seu povo preto. Santa Maria se acha uma cidade branca. Mas não é. Nós, pretos e pretas, estamos aqui. Temos um povo preto forte, guerreiro, que se orgulha do dia 20 de novembro - Dia Nacional da Consciência Negra -, de nosso gaúcho Oliveira Silveira, de Dandara dos Palmares. Queremos exigir políticas públicas das gestões municipais, dos vereadores, exigir que nosso povo preto esteja nesses espaços decisórios, que esteja nas universidades sem paredes pixadas [alusão às pixações racistas encontradas em paredes da UFSM no último ano]. Queremos que nossas crianças negras tenham o direito de sobreviver e se entenderem negras. Ir às ruas nesse domingo porque nossas vidas pretas importam sim”, conclui AfroGuga.

Ato de domingo

O ato em defesa das vidas negras está marcado para às 15h deste domingo, 7 de junho, na Praça Saldanha Marinho, em Santa Maria. Você pode confirmar presença no evento de facebook e acompanhar as postagens. Uma das preocupações tem sido com a segurança dos manifestantes frente a pandemia do novo coronavírus. Desta forma, as orientações são para que as pessoas vão de máscara, mantenham o distanciamento de dois metros entre si, usem álcool em gel e se dirijam diretamente para casa após o ato. Às pessoas integrantes dos grupos de risco aconselha-se não participar.

Ato virtual

Também neste domingo, 7, mas às 18h e de forma virtual, ocorre um ato com a presença de Karen Santos, militante do Coletivo Alicerce e da Frente Quilombola/RS (vereadora pelo PSOL em Porto Alegre); Hertz Dias, professor da rede estadual no Maranhão, integrante do Gíria Vermelha e da Secretaria Nacional de Negros e Negras do PSTU; Cilas Machado, militante do Coletivo Juntos/PSOL; Matheus Gomes, militante do movimento negro e da Resistência/PSOL; e Onir Araújo, ativista da Frente Quilombola/RS.

O ato será transmitido pela página de facebook da CSP-Conlutas Rio Grande do Sul.

 

Texto: Bruna Homrich

Imagens: Divulgação e Reuters

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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