Dica cultural: professor celebra trajetórias de Paulo José e Tarcísio Meira
Publicada em
20/08/21 15h25m
Atualizada em
20/08/21 15h57m
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Vitor Biasoli destaca obras com mais de 50 anos, mas que ainda seguem com mensagens atuais
Sextou na quarentena! Nesta sexta, 20, a dica cultural é do escritor e professor Vitor Biasoli, aposentado do departamento de História da UFSM. Ele relembra alguns dos momentos marcantes das trajetórias dos atores Paulo José e Tarcísio Meira, ambos falecidos na semana passada- respectivamente dias 11 e 12 de agosto. Da filmografia de José, clássicos como “Macunaíma”, que está incluído entre os 100 filmes brasileiros de todos os tempos. Contudo, o historiador prefere se fixar em “Todas as mulheres do mundo”, em que o ator gaúcho contracena com a musa, Leila Diniz. Em relação a Tarcísio Meira, a lembrança de Biasoli vai da novela que representou um marco na TV brasileira (Irmãos Coragem) até o cinema, estilo no qual destaca o cangaceiro vivido em “Quelé do Pajeú”. Viva o cinema nacional!
“Paulo José e Tarcísio Meira
O ator Paulo José, faleceu no último dia 11, com 84 anos de idade, já com o reconhecimento de ser uma das melhores faces do cinema brasileiro. Certamente uma das mais simpáticas. Está presente em excelentes filmes, como “O padre e a moça”, “Todas as mulheres do mundo”, “Macunaíma”, “O rei da noite” e “Eles não usam black-tie”.
Em “O padre e a moça” (1966), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, ele interpreta um padre que chega numa cidade do interior de Minas Gerais. Uma pacata moça do local se apaixona pelo religioso, levando-o a uma crise profunda. A narrativa se estende em diálogos densos, longos silêncios, olhares angustiosos, construindo um drama de amor obstaculizado por nossos tradicionais costumes austeros. Um retrato do Brasil arcaico que nos constitui.
Mas se iniciei afirmando que Paulo José representa uma das faces mais simpáticas do cinema nacional, certamente foi devido a sua atuação em “Todas as mulheres do mundo”. Neste filme de Domingos de Oliveira, Paulo José interpreta um sensível namorador, contracenando com a sensual Leila Diniz. Ambos passam a viver juntos, não esquecem os antigos amores e, coisa rara, conseguem articulá-los com a nova vida que constroem. Um filme divertido, no qual a interpretação sorridente de Paulo José é marcante.
Enquanto escrevia esse breve comentário, outra de morte de ator veio me abater: a de Tarcísio Meira, aos 85 anos. Impossível não lembrar a sua atuação na novela televisiva “Os irmãos Coragem”, de 1970. Dramática luta entre os irmãos garimpeiros (dos quais Tarcísio é um dos integrantes) e um patrão truculento nos confins do país. Da minha parte, porém, a melhor recordação vai para um filme de cangaço, “Quelé do Pajeú” (1969)- foto acima. Tarcísio interpreta um vaqueiro nordestino que sai a vingar a irmã estuprada e termina ingressando no bando de Lampião. Seu rosto anguloso e sua expressão altiva (semelhantes à de João Coragem) ficaram para mim como a melhor representação do brasileiro confrontado com as injustiças do mundo.
Certamente perdemos dois ícones do cenário cultural, atores que (de formas distintas) deram a face para as representações que temos do nosso país: dos padres atormentados, dos paqueradores divertidos, dos garimpeiros destemidos ou dos vaqueiros descaroçados pelas agruras da vida.”
Vitor Biasoli
Professor aposentado do departamento de História da UFSM.
Edição: Fritz R. Nunes
Imagens: Youtube, arquivo pessoal e divulgação
Assessoria de imprensa da Sedufsm