Corte de verbas e salários achatados causam ‘fuga’ de docentes da universidade SVG: calendario Publicada em 29/07/22 18h26m
SVG: atualizacao Atualizada em 29/07/22 18h32m
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Movimento de desistência é notado internacionalmente, mas no Brasil cenário é particularmente dramático

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Os cortes cada vez mais agressivos decretados pelo governo federal ao orçamento das universidades e institutos públicos não têm desmontado somente as pesquisas em andamento, mas também os próprios pesquisadores e a docência como profissão de referência para milhares de brasileiras e brasileiros.

Frente a salas de aula inchadas e precárias,  à impossibilidade de participar ou de oportunizar que estudantes participem de congressos e eventos fundamentais à sua formação, à evasão estudantil devido às tesouradas orçamentárias nas políticas voltadas à permanência estudantil, a um salário sem reajuste há quatro anos e a bolsas de pesquisa escassas e quase que brutalmente disputadas, a docência não só tem feito menos olhos de jovens brilharem ao pensarem em possíveis futuras profissões, como tem se enfraquecido como possibilidade de carreira até mesmo para quem nesta carreira já está inserido.

Usando a hashtag #leavingacademia (deixando a academia), pesquisadores e pesquisadoras de diversas partes do mundo têm anunciado rompimento com a atividade docente e de pesquisa, e rumado para outras atuações profissionais. Tal fenômeno foi abordado pela revista Nature, que atribuiu essa verdadeira ‘fuga de cérebros’ das universidades e institutos de pesquisa aos números cada vez menores de vagas permanentes de trabalho, às pressões para captarem susbsídios de pesquisa, ao aumento das cargas de trabalho e à hostilidade dos setores da direita política aos acadêmicos.

No Brasil, tal realidade é ainda mais dura. Levantamento realizado pelo Jornal da USP sinalizou que, entre 2012 e 2021, as verbas para pesquisa sofreram uma redução de 84%, passando de R$ 11,5 bilhões para R$ 1,8 bilhão.

Segundo dados fornecidos à Assessoria de Imprensa da Sedufsm pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) da Ufsm, desde 2017 até 2022, a instituição registrou 25 ocorrências de exonerações de docentes. Em 2017, foram duas exonerações; em 2018, seis; em 2019, quatro; em 2020, seis; em 2021, 4; e em 2022 (até o presente momento), três.

Também questionamos à Progep sobre o número de pedidos de mudança de regime laboral docente (de 40 para 20 horas), ao que nos foi respondido que, entre 2018 e 2022, foram solicitadas três alterações de regime de trabalho (uma em 2018; uma em 2019; e uma em 2021), e, nessa mesma fatia temporal, um ou uma docente solicitou abandono da Dedicação Exclusiva (DE) e adoção do regime de 40 horas semanais.

Ou seja, o número de exonerações nos últimos anos ultrapassou o número de solicitações de mudança de regime de trabalho. Não se sabe o motivo de tais solicitações de exoneração, e qualquer movimento de adivinhação cairia no campo especulativo, contudo, se a UFSM acompanha a tendência nacional e mundial, tais ‘debandadas’ da academia podem, talvez, guardar relação com a piora nas condições de trabalho, a falta de financiamento e o consequente sucateamento da universidade pública.

O recente anúncio por parte da Unisinos acerca do fechamento de 12 programas de pós-graduação serve também para ilustrar o lugar subalterno que as pesquisas científicas e a própria docência vêm ocupando no Brasil. Em uma decisão considerada pela diretoria do ANDES-SN como unilateral e submissa ao mercado, a direção da universidade empurrou para o desespero diversos estudantes e trabalhadores/as que tinham, no andamento daqueles programas de pós-graduação, suas expectativas de futuro e suas condições de permanência no presente.

*Diretoria da Sedufsm (da dir.: Ascísio Pereira, Teresinha Weiller e Liane Weber), ao lado de membros da Assufsm, em manifestação em Brasília 

O abandono da docência é fruto de uma política de abandono

Enquanto há professores e professoras desesperançados o suficiente para abrirem mão da carreira, a percepção é de que o cenário já vem inibindo também a busca pela profissão por parte de jovens.

Ascísio Pereira, presidente da Sedufsm, trabalha com a formação de professoras e professores e diz perceber, nos últimos anos, uma redução do número de pessoas nos cursos de licenciatura.

“A desvalorização dos rendimentos, as condições de trabalho e a falta de investimento efetivo nas pesquisas são fatores importantes. Para uma carreira docente ser atrativa, tem que apresentar, a meu ver, condições de trabalho e de remuneração as mais dignas possíveis, senão o docente tem que duplicar, triplicar ou até mesmo atuar em quatro instituições para sustentar a si e a sua família devido aos baixos salários”, avalia Pereira.

E, se na universidade foram registradas 25 exonerações nos últimos quatro anos e meio, na educação básica, mais especificamente nas cidades abrangidas pela 8º Coordenação Regional de Educação, entre 2018 e 2021, 1300 pessoas (professores/as e trabalhadores/as técnicos/as da educação) se licenciaram em decorrência de problemas de saúde físicos ou mentais. Os dados foram levantados por uma orientanda de Pereira.

“Esse tipo de coisa deixa de atrair para a profissão. E sobretudo a remuneração não atrai. O Rio Grande do Sul tem o 24º salário do Brasil, num universo de 27 estados. O problema não é a condição econômica dos estados, mas a prioridade que a educação tem nas políticas públicas do governo. Por ela não ser prioridade, os salários são ridículos”, critica o dirigente da Sedufsm.  

Vê-se, então, que o fazer docente vem sendo desvalorizado em todas as esferas da educação brasileira – do ensino básico ao superior, passando pelo técnico e tecnológico.

Viviane Cancian, docente do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM, pondera que os cortes orçamentários e os financiamentos cada vez mais reduzidos não impactam somente nas questões estruturais da universidade, a exemplo de suas instalações físicas, materiais de insumo e recursos, mas na vida de alunos e nas condições de trabalho docentes.

“Para que possamos realizar nosso trabalho e legitimar nosso métier nas universidades, com processos formativos de qualidade, faz-se necessária uma universidade forte, em que o tripé ensino, pesquisa e extensão impacte na sociedade, em que a pesquisa, a produção do conhecimento e a socialização através da extensão tenha implicações nos rumos de uma sociedade includente e transformadora. Quando isso não acontece, os reflexos impactam nas escolhas profissionais, gerando desencantamento e descrédito na educação pública”, analisa a professora.

Com o combo 'políticas públicas ruins, baixos investimentos e carreiras pouco atrativas', as novas gerações tendem a não cultivar a docência como referência de profissão. É o que reconhece Pereira, para quem o foco central de resolução do problema é a aposta em políticas públicas efetivas de incremento orçamentário e qualificação docente.

“Tem que mudar a formação, cobrar políticas públicas e pensar com muita amplitude o problema da educação, senão essa vai ser uma profissão cada vez mais relegada ao segundo plano. E, para que se tenha um Estado indutor de políticas públicas, é preciso mudar a correlação de forças em seu interior”, sugere o presidente da seção sindical.

 

Texto: Bruna Homrich

Fotos: Arquivo/Sedufsm

Assessoria de Imprensa da Sedufsm  

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