O que você vai ser quando envelhecer?
Publicada em
08/07/2025
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O mundo está envelhecendo. O Brasil em proporções maiores e em ritmo acelerado segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Precisamos nos preparar, em diferentes dimensões para enfrentar esta relevante mudança na sociedade brasileira. Os desafios são inúmeros: preparação individual e coletiva para a aposentadoria; formação humanizada para profissionais da Saúde e da Educação para bem atender esta população e suas necessidades; políticas públicas que contemplem a heterogeneidade do envelhecer tais como: marcadores de gênero, sexualidade, classe, raça/etnia, necessidades especiais, entre outras. Seguem algumas reflexões: como está a questão das calçadas e dos prédios públicos na sua cidade? Há acessibilidade e manutenção em dia?
As prefeituras atuam, de alguma maneira, para contemplar especificidades da população mais envelhecida? Você já ouviu falar dos Conselhos Municipais e Estaduais dos Idosos? E do Estatuto do Idoso (2003)? Agora nomeado de Estatuto da Pessoa Idosa. E da Política Nacional do Idoso (1994)? Na cidade de Santa Maria/RS, há apenas três instituições, públicas, para idosos, e mais de vinte clínicas particulares para quem pode pagá-las, e posso garantir, o valor da mensalidade não é baixo. As famílias e os/as filhos estão preparados para cuidar de seus idosos? A maioria das pessoas que conheço ainda não se conscientizou desta importante questão. Está perdida, carente de respostas.
É preciso conhecer a legislação que temos para lutar pelos direitos, pela cidadania plena. Uma amiga que se aposentará este ano me confessou durante um almoço: “Estou apavorada, o que farei das 8 às 17 horas?” Eu acrescentaria: “Com exceção do seu trabalho, o que resta da sua vida?” Infelizmente muitos ainda não pensaram nisso. Precisamos de Centros-dia e de Centros de Referência para o idoso, ou seja, locais pensados pelas políticas públicas especialmente para pessoas mais velhas: 40, 50, 60 mais. Faltam políticas públicas voltadas para os idosos: projetos em parcerias com as Universidades, com empresas locais, organização da área de turismo e de ações de sociabilização, sem contar em experiências intergeracionais, as quais buscam um diálogo entre diferentes gerações. Todos sairiam ganhando, sem dúvida. Imaginem idosos interagindo com crianças e/ou adolescentes? Não seria maravilhoso? Infelizmente ainda estamos longe deste cenário.
Na pesquisa que realizei em Porto Alegre/RS, em 2013, com um grupo de idosos homossexuais, os mesmos já apontavam para a necessidade de morar próximos, no mesmo bairro, para auxiliarem-se mutuamente. Até planejaram a rotina da semana, sempre na coletividade, por exemplo: terças e quintas caminhadas em parques públicos, segundas, quartas e sextas cinema e café em casa, em sistema de rodízio entre eles. Fantástico! Em Salvador/BA, tive a notícia da existência de verdadeiras “repúblicas” para idosos, onde estes compartilham seus lares entre os demais amigos idosos. E aqui na cidade de Santa Maria, quais espaços e ações você conhece para o público idoso? O que está faltando? Quando pensamos em velhice o que vem a sua cabeça? Solidão, depressão, prazer, liberdade? Que possamos envelhecer de uma maneira saudável e criativa a partir de uma convivência ética, democrática e plural.
(* Gustavo Duarte também é coordenador do NIEATI- Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade do CEFD-UFSM)
Sobre o(a) autor(a)
Professor do departamento de Métodos e Técnicas Desportivas do CEFD da UFSM