O papel dos centros de ensino na corrida à reitoria da UFSM SVG: calendario Publicada em 25/04/25
SVG: atualizacao Atualizada em 26/04/25 11h47m
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Artigo aponta que 90% dos reitores vieram de apenas três unidades

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Desde quando José Mariano da Rocha Filho fundou a UFSM e inaugurou o posto de reitor, em 1960, outros 11 professores ocuparam o cargo de gestor máximo da instituição. Desses, cinco vieram do Centro de Ciências da Saúde (CCS), quatro do Centro de Tecnologia (CT), dois do Centro de Ciências Rurais (CCR) e um do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE). 

Os dados se originam de levantamento realizado por dois pesquisadores da UFSM – Alcir Martins e Micaela Jessof -, autores do artigo “A elite política na academia: uma análise da trajetória dos reitores da UFSM”, publicado no livro “A elite acadêmica: estudos sobre as formas de (re)produção do capital acadêmico”, cuja organização é do professor Everton Picolotto, professor do departamento de Ciências Sociais e presidente da Sedufsm. A obra será lançada na quarta, dia 30, às 16h, no Auditório do CCSH (74C).

Ao observar a predominância esmagadora de ex-reitores (incluindo o atual, Luciano Schuch/CT) vindos do CCS e do CT, pode-se questionar por que tais centros de ensino figuram como os principais berços acadêmicos da elite política na UFSM. A justificativa seria meramente quantitativa, indicando que estariam, ali, os maiores colégios eleitorais da universidade? Ou seja, os reitores teriam sido eleitos porque seus centros de origem concentram o maior número de votantes?

Nossa primeira análise, obtida através de dados cedidos pela Pró- Reitoria de Planejamento à Assessoria de Imprensa da Sedufsm, diz que não. Se as eleições à reitoria em 2025, por exemplo, fossem decididas tendo por critério a preferência política do maior colégio eleitoral, o candidato ou candidata vencedora seria aquele ou aquela que caísse nas graças da maioria de docentes, técnico-administrativos em educação (TAEs) e estudantes pertencentes ao Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), já que este, hoje, é o maior colégio eleitoral da instituição. E não se trata de um cenário novo, pois há dez anos, em 2015, o centro já era o mais numeroso da instituição. Por que, então, nunca tivemos um reitor ou reitora dali oriundo? 

Somando docentes, TAEs e estudantes, o CCSH tem atualmente uma comunidade de 5.256 pessoas. Em segundo, terceiro e quarto lugares, de fato, vêm os centros de onde se originaram todos os reitores até então: CT (4.271 pessoas), CCS (4.252 pessoas) e CCR (3.073 pessoas). 

Para o presidente da Sedufsm, os três centros de onde vieram todos os reitores da UFSM não concentram apenas a elite política da instituição, mas também a elite científica, caracterizada pelos professores e professoras mais valorizados e reconhecidos por suas pesquisas.

“Então, além de concentrarem nesses centros o poder político, eles também concentram os mais reconhecidos programas de pós-graduação, os cientistas que têm maior renome, e não por acaso também concentram a maior parte dos recursos financeiros que são destinados pela instituição e por agências externas. A fórmula “capital atrai mais capital” funciona muito bem dentro da instituição. O que seria necessário para a democratização da instituição seria reduzir o poder desses centros, fazendo com que outros também recebam maiores e melhores recursos para poderem também se desenvolver”, opina Picolotto.

Ele diz que temos avançado nos últimos tempos, com um maior desenvolvimento das áreas das ciências humanas e a criação de cursos de graduação e pós-graduação. Contudo, muitos desses cursos ainda são novos e precisarão de um tempo para formar cientistas reconhecidos.

“Mas também penso que deveríamos ter uma reforma desses centros para que todos tenham igual poder nos conselhos superiores, tendo em vista que nós temos uma desproporção muito grande entre os centros, e todos eles deveriam ter o mesmo poder dentro dos conselhos superiores que tomam as decisões. Então penso que passam por aí algumas mudanças para a democratização da instituição”, acrescenta Picolotto, que é docente do departamento de Ciências Sociais.

O perfil dos reitores da UFSM

José Mariano da Rocha Filho, Hélios Homero Bernardi, Derblay Galvão, Armando Vallandro, Gilberto Aquino Benetti, Tabajara Gaúcho da Costa, Odilon Antônio Marcuzzo do Canto, Paulo Jorge Sarkis, Clóvis Silva Lima, Felipe Martins Muller, Paulo Afonso Burmann e Luciano Schuch. Todos os homens que passaram pela reitoria da UFSM guardam algumas semelhanças que vão para além de pertencerem aos mesmos centros de ensino.

Segundo o artigo de Alcir e Micaela, todos os reitores concluíram suas graduações entre os 21 e os 26 anos de idade, indicando que dispunham de condições familiares, econômicas e sociais mais privilegiadas, se em comparação com o restante da população. Ao confrontarem essa informação com os dados do Censo da Educação Superior de 2019, que indica os 25,5 anos como a média de idade das e dos ingressantes em cursos presenciais, os articulistas sugerem “condição recorrentemente vantajosa para o grupo pesquisado quando comparado à população em geral.” 

“Eu penso que tem algumas coisas muito visíveis no nosso texto. Por exemplo, o acesso à escolarização que eles [reitores] tiveram, todos muito jovens, todos num período considerado correto, e principalmente os mais antigos, numa fase em que a universalização do ensino superior era uma quimera muito distante, uma bandeira em panfletos políticos. Não era algo muito passível de ser realizado. Era muito difícil ter acesso ao ensino superior, e os poucos que tinham acessavam na idade certa e nos cursos de maior prestígio. Só isso já indicava um verniz de poder, de vantagem, de benefício muito, muito forte”, diz Alcir Martins, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM e um dos responsáveis pelo artigo citado nesta matéria.

Uma tendência que atravessa a história da UFSM – Outro achado de pesquisa trazido no artigo de Alcir e Micaela converge para a crítica que Picolotto faz no início deste texto: a concentração de reitores em poucas áreas de formação. Para Alcir, áreas vinculadas às tecnologias, ciências da saúde ou ciências rurais concentram recursos da universidade de forma incomparável com as demais áreas.

Isso é confirmado em outro artigo do livro “A elite acadêmica: estudos sobre as formas de (re)produção do capital acadêmico”, intitulado “Financiamento à pesquisa na UFSM: entre o padrão de reprodução do capital e o capital acadêmico” e assinado por Marcos Corrêa e Fernanda Fernandes. No texto, a partir de pesquisa no site da UFSM e com os órgãos de fomento (FAPERGS E CAPES), o autor e a autora apontam que os maiores investimentos, entre os anos de 2019 e 2023, foram realizados no CCR, que tem uma vantagem orçamentária bem acentuada em comparação com o segundo lugar, ocupado pelo CT.

“Esse grupo [reitores] tem vantagens no processo formativo, por se formarem nas áreas de maior prestígio, e por essas áreas de maior prestígio na sociedade também garantirem maior recurso financeiro para dentro da universidade, para fazer pesquisa, produzir projetos e ações diversas que consolidam a sua área como prioritária na produção acadêmica. Essa é uma tendência que atravessa a história da Universidade Federal Santa Maria. São áreas que estão colocadas o tempo todo como hegemônicas e circulam entre elas, apenas nelas, os cargos mandatários principais”, argumenta Alcir.

Alternância necessária - Reivindicando o conceito do sociólogo francês Pierre Bordieu, Picolotto explica que a construção do capital social é importante na corrida à reitoria, sendo esse capital explicado como a influência e o apoio que uma pessoa ou grupo social consegue mobilizar em seu meio.

“Para esses reitores chegarem a ser reitores, precisaram percorrer um certo caminho dentro da instituição, que é a aquisição de capital acadêmico e político. Então, para isso, eles trilham um caminho de serem chefes de departamento, coordenadores de curso, diretores de centros importantes, estabelecendo e consolidando essas relações, até se cacifarem para disputar uma eleição à reitoria e ganhá-la, dentro da universidade”, comenta Picolotto.

Na análise do presidente da Sedufsm, é possível atestar que o poder se concentra em poucos centros de ensino. “É um grande desafio para a comunidade universitária também pensar algumas mudanças na sua estrutura, distribuir melhor esses espaços de poder, para que possa haver uma maior alternância de áreas de conhecimento, de centros de ensino, para chegarem a ocupar a reitoria”, sugere.

O livro “A elite acadêmica: estudos sobre as formas de (re)produção do capital acadêmico” será lançado oficialmente na próxima quarta-feira, 30 de abril, às 16h, na sala 4222 do Prédio 74C.

“Acho que nunca teremos paridade entre os diversos centros da UFSM”

Eleito vice do reitor Gilberto Aquino Benneti, em 1987, Ricardo Rossato seguiu no cargo até 1991, tendo sido vice, por um período, também do professor Tabajara Gaúcho da Costa. Advindo do Centro de Educação, que não tem a tradição de ser berço político e acadêmico de reitores, tampouco está entre os cinco centros mais numerosos da universidade, ele já havia sido presidente da Associação dos Professores, à época uma entidade com forte caráter Sindical.

Durante sua atuação na vice-reitoria, Rossato não se sentiu, em nenhum momento, diminuído, participando, em condições de igualdade, das discussões e encaminhamentos. “Então o fato de eu ter origem no Centro de Educação não chegou, digamos, a prejudicar a minha atuação. Mas eu senti, por exemplo, a dificuldade que eu teria para, posteriormente, ser candidato a reitor, por essas circunstâncias”, disse, em entrevista à Assessoria de Imprensa da Sedufsm.

Na época em que esteve na vice-reitoria, havia o cuidado de que nenhuma área ou centro fosse prejudicado, mas hoje, Rossato pondera que a tecnologia ocupa um lugar privilegiado na sociedade e que, na universidade, não é diferente, o que leva a um volume de investimentos mais elevado do que aquele direcionado às ciências humanas.

“Eu diria que, de certa forma, a universidade reproduz um prejuízo à cultura e às ciências humanas. Os investimentos em áreas das ciências humanas são muito menores e desproporcionais, [em comparação a] qualquer evento e qualquer investimento na área da tecnologia. Com certeza os governos centrais valorizam mais esses campos das ciências exatas e das ciências da tecnologia porque encontram na sociedade uma aceitação maior. Isso faz com que tenha certo prejuízo e atrofiamento da pesquisa nos campos das ciências humanas”, reflete Rossato.

Jovem democracia universitária

Falar em democracia dentro da universidade é contar uma história ainda bem recente, que remonta a meados de 1980, quando o Brasil abandonou a ditadura militar. “Eu diria que, com certeza, é somente no século XXI que nós temos um processo mais consolidado. Portanto, é questão de 20, no máximo 30 anos, que nós temos um processo mais aberto de eleição e escolha”, diz Rossato. Ele ainda frisa que em diversos outros países não há uma tradição democrática de escolha das e dos dirigentes das instituições de ensino, de forma que esses são escolhidos por conselhos ou grupos restritos. 

Dado esse cenário brasileiro, marcado por uma democracia universitária ainda jovem e um modelo de poder nacional bastante centralizado e controlado por elites tradicionais, Rossato acredita que o caminho até uma real democratização do poder será longo.

“Defendo claramente que as consultas sejam feitas. Acho que o modelo tripartite de professores, técnico-administrativos e estudantes já foi um avanço, né? Mas para a  democratização realmente dentro da universidade, no sentido de que a sociedade respeite os anseios da universidade, teremos ainda um longo caminho a percorrer. O desejável é que o eleito pela comunidade seja respeitado. Essa autonomia, por ser dependente de leis centrais, vai um longo caminho. E eu diria que se nós tivéssemos um processo, de fato, de democratização, isso se resolveria internamente”, pondera Rossato. 

Eleições 2025

No próximo dia 25 de junho, das 7h às 22h, a comunidade acadêmica da UFSM poderá expressar sua preferência na pesquisa de opinião responsável por indicar quem será o novo reitor ou a nova reitora da instituição pelos próximos quatro anos. 

Formalmente, na verdade, a eleição tem três etapas: pesquisa junto à comunidade, eleição nos conselhos superiores da instituição (Conselho Universitário, Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e Conselho de Curadores) e envio da lista tríplice (votada nos conselhos) para nomeação pelo Ministério da Educação. 

A expectativa é de que este ano, como comumente acontece, tanto conselhos quanto MEC respeitem a decisão da comunidade acadêmica e nomeiem o candidato ou a candidata mais votada por estudantes, docentes e técnico-administrativos em educação da UFSM.

 

Texto: Bruna Homrich

Ilustração: Italo de Paula

Gráficos: Vilma Ochoa 

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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