O legado de Mario Vargas Llosa SVG: calendario Publicada em 30/04/25
SVG: atualizacao Atualizada em 30/04/25 10h03m
SVG: views 245 Visualizações

Professora Ivana Ferigolo Melo, do Departamento de Letras Estrangeiras e Modernas, destaca a importância da obra do escritor peruano

Alt da imagem

Na dica cultural desta quarta-feira, 30 de abril, a professora do departamento de Letras Estrangeiras e Modernas da UFSM, Ivana Ferigolo Melo, aborda um pouco da obra do escritor peruano, Nobel de Literatura em 2010, Mario Vargas Llosa, falecido há poucas semanas. Para além da perda, a docente fala sobre as características que fizeram a escrita do autor ser considerada única e genial, colecionando prêmios mundo afora. Confira o texto abaixo:


O legado mitiga a morte: a grandeza da literatura de Mario Vargas Llosa

Sem dúvida, a partida de Mario Vargas Llosa, ocorrida no dia 13 de abril de 2025, configura uma perda irreparável. Afinal, quem saiu fisicamente de cena, aos 89 anos, foi o prêmio Nobel de Literatura de 2010, o autor de clássicos da literatura hispano-americana como Conversación en la Catedral, La ciudad y los perros, Casa verde, mas, também, uma referência inquestionável nos estudos da literatura e um político que, apesar da posição flutuante, não teve atuação discreta.

A volumosa e qualificada produção literária, ensaística, crítica do recém falecido escritor dá testemunho de sua vivaz atividade mental e sensível. Testificam, ainda, sua capacidade inovadora no concernente à criação ficcional, habilidade que fez e faz dele uma das mais representativas vozes do boom literário latino-americano, fenômeno que viabilizou reconhecimento extraordinário à literatura desse lado do continente tanto pela explosão de vendas (boom) como pelo aspecto inovador das obras dos autores que o constituem.

No caso de Vargas Llosa, a grande novidade recai em seu estilo único de narrar. Os temas de suas obras giram em torno do poder, das dinâmicas políticas e econômicas muito operativas na América Hispânica e que são responsáveis pela origem e/ou perpetuação de sociedades desiguais, arbitrárias, atrasadas, fracassadas, como bem indica a pergunta ?En qué momento se jodió Perú?, que se faz o personagem Zavalita da monumental obra Conversación en la Catedral. Mas a peculiaridade da literatura de Vargas Llosa não é, a meu ver, de ordem temática. Diz respeito à forma de contar. Suas produções ficcionais são preponderantemente construídas a partir de um jeito desenfreado de relatar, em que cenas se sobrepõem, pensamentos de personagens são justapostos a ações ou a pensamentos de outros, em que não há qualquer aviso sobre alternância de vozes, em que travessões são extinguidos e pontos são se tornam escassos.

Suas narrativas ganham em fluidez, o que não significa, porém, facilidade na leitura. O Leitor é convocado a participar ativamente no reconhecimento ou identificação de vozes, na separação das cenas, na localização temporal e espacial dos fatos justapostos. A leitura das obras de Vargas Llosa pede concentração extrema e o leitor só poderá mergulhar no universo relatado se tolerar avançar com lentidão. E aqui reside, para mim, a maior riqueza da obra do autor peruano: pede do leitor aquelas habilidades que mal se exercitam hoje em dia - atenção, concentração prolongada, tolerância àquilo que não é de fácil entendimento ou que exige esforço mental ou sensível. A leitura de suas principais criações ficcionais Conversación en la Catedral, La ciudad y los Perros, La casa verde, Los Cachorros, Tía Julia y el escriviñador permitem um trânsito profundo por universos humanos impactados por dinâmicas políticas e econômicas, costumes sedimentados, regimes de poder bem particulares, mas, somente se o leitor tolerar participar ativamente do processo, se estiver aberto ao exercício da atenção extrema. A produção literária de Llosa adquire suma importância, portanto, em tempos do império do Tik Tok, das redes sociais, etc..

Para ser lida, requer o abandono de um modo dispersante e acelerado de operar tão preponderante na atualidade, funcionando, portanto, como uma rica alternativa para quem pretende exercitar habilidades humanas já pouco desenvolvidas como foco, tolerância, esforço, aprofundamento.

A morte de Vargas Llosa é, portanto, um acontecimento digno de ser sentido como perda. A herança ficcional, a importância de sua obra, a peculiaridade de seu jeito de relatar somados a sua grandeza como ensaísta e crítico literário mitigam qualquer falta e nos convidam a comemorar sua vida eternizada nesse rico legado.”

 

Ivana Ferigolo Melo

Professora do departamento de Letras Estrangeiras e Modernas do CAL/UFSM.

 

Edição: Paola Matos (Estagiária de Jornalismo)

Imagem: Globovisión/Flickr; Divulgação e arquivo pessoal

Revisão: Fritz Nunes (Jornalista)

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

 

SVG: camera Galeria de fotos na notícia

Carregando...

SVG: jornal Notícias Relacionadas

Festival Armazém realiza 2ª edição no dia 25 de maio, em Santa Maria

SVG: calendario 16/05/2025
SVG: tag Cultura
Evento gratuito celebra os 10 anos da Rádio Armazém com oficinas, feira e shows no Centro de Economia Solidária

Série Estação Cultural – Artes Sintonizadas destaca produção artística independente em Santa Maria

SVG: calendario 09/05/2025
SVG: tag Cultura
Episódio de lançamento aborda a trajetória social da escola de dança Royale

Dia Internacional da Dança (29) terá espetáculos gratuitos no Centro de Convenções da UFSM

SVG: calendario 25/04/2025
SVG: tag Cultura
Na dica desta sexta, a professora Neila Baldi escreve sobre a mostra UFSM em Dança da próxima terça, dia 29

Veja todas as notícias