Sem medo da organização coletiva SVG: calendario Publicada em 05/11/2025 SVG: views 230 Visualizações

Pensar na organização coletiva da categoria de docentes no âmbito de uma Universidade Pública, é envolver um universo de saberes. Compreende-se este lugar com tarefas acadêmicas, administrativas e políticas desenvolvidas a partir da consciência de compromisso ético, face aos desafios sociais.

Neste cenário temos protagonistas, que dinamizam os saberes aí construídos e partilhados, realizando uma ação de cidadania. A organização coletiva da categoria de trabalhadores, como a dos professores, produz o alargamento de experiências, numa dinâmica de trocas dentro e fora dos muros da Universidade. E assim se escreve a história dos movimentos sociais. O Movimento Docente (MD) é um dos tantos movimentos sociais, que se afirmou como associação e mais tarde serviu de base para o sindicato.

Para escrever a história, é necessário visitar a memória, buscando os acontecimentos originários. Antes da organização sindical, as Associações de Docentes congregavam os professores e professoras com objetivos de convívio, em eventos comemorativos e na prestação de alguns serviços, como convênios ou filantropias, sem outras dimensões de participação política, referidas às questões da Universidade.

A partir da metade dos anos 70, algumas ADs começaram a tomar iniciativas, articulando debates acerca de suas peculiaridades, como entidade de docentes. Algumas universidades eram fundações, outras autarquias, e tinham regimes diferenciados de trabalho e de questões salariais.  O Movimento Docente ocupava o espaço da SBPC, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, para debater suas questões e propostas. Em julho de 1978, em São Paulo, foi o momento mais expressivo desse debate acerca de um novo perfil desejado por algumas associações de professores universitários. A partir deste momento, os encontros nacionais das associações docentes, os ENADS fortaleceram mais e melhor o MD. Um desses encontros, que participei, ocorreu em 1979, em Salvador. O debate ficou robusto. A intenção era definir metas e programas objetivos, como profissionalização dos professores, questões salariais, plano de carreira e greve, como forma de luta, para conseguir essas reivindicações. Estava amadurecida a ideia de uma Associação Nacional de Docentes, consolidando-se o MD nas universidades públicas, expandindo-se à outras regiões, como norte e nordeste. A greve das universidades, em 1980, foi um marco para a unificação dos pleitos dos professores universitários, ainda numa conjuntura autoritária, em que um general era o Ministro da Educação.

Esse movimento grevista abriu caminho para a efetiva criação da Associação Nacional, em fevereiro de 1981, no Congresso das Entidades, em Campinas. O primeiro congresso da entidade nacional ocorreu em fevereiro 1982, em Florianópolis. Osvaldo Maciel, professor da UFSC foi eleito o primeiro presidente da Associação Nacional e Sergio Pires, presidente da APUSM, foi escolhido para a Vice-Presidência da Regional Sul da ANDES.

A Constituição Democrática, promulgada em outubro de 1988, possibilitou a organização sindical dos funcionários públicos civis. Em 26 de novembro de 1988, a associação passou a ser sindicato, tornando-se ANDES-SN. Essa grande vitória da sociedade civil ensejou que nos diversos órgãos públicos ocorressem os debates acerca de organizações sindicais. As universidades públicas participaram desse processo, não sem algumas dificuldades, próprias de litígios entre docentes e dirigentes universitários, ainda alinhados aos ditames da ditadura militar. O dígito do autoritarismo não foi logo apagado dos órgãos públicos, depois de 21 anos de tempos sombrios.

A SEDUFSM, criada em 7 de novembro de 1989, com essa característica de Seção Sindical, assumiu a plataforma das lutas propostas pelo Movimento Docente. Está comemorando 36 anos.  Os dirigentes, à época, da Associação de Professores da UFSM não aderiram à forma de organização sindical e decidiram manter a APUSM restrita a seu caráter de associação, sem assumir as propostas de lutas do MD. Talvez, por não entenderem que professores e professoras não estão na categoria de trabalhadores, sendo dispensável a filiação sindical.

Clovis Guterres foi o presidente eleito no ato de fundação da Seção Sindical, para dar corpo e consolidar a entidade na UFSM, o que fez com liberdade e lucidez, próprias de seu espírito filosófico. A ata de fundação registra a assinatura de 66 docentes, que assumiram o desafio de criar um organismo capaz de representar as demandas reais dos professores de uma Universidade Pública. Sem medo.

No momento em que comemoramos o aniversário de nossa jovem seção sindical, os sentimentos de alegria e gratidão estão presentes. Alegria pelas tarefas cumpridas e desafios enfrentados. Gratidão pelos que possibilitaram e assumiram, com coragem, essa tarefa de sindicalização dos docentes, enfrentando autoridades danosas e colegas refratários à ideia sindical.

Importante que ainda estamos aqui.