Professores da UFSM refletem sobre o 20 de setembro SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 19/09/13 16h07m
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Comemoração tem gerado questionamentos sob um viés ideológico

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Na data ‘precursora da liberdade’ reverencia-se não apenas a Revolução Farroupilha, mas também é um momento de evidenciar as tradições gauchescas - do chimarrão aos trajes típicos, marcas registradas da figura símbolo do vinte de setembro: o gaúcho. A história do Rio Grande do Sul está atrelada a esta data, e para refletir sobre as questões que envolvem o ‘20 de setembro’, a assessoria de imprensa da Sedusfm buscou os depoimentos de docentes do departamento de História da UFSM, Maria Medianeira Padoin, Diorge Konrad e Julio Quevedo, este último, também vice-presidente da Sedusfm. Completando o quadro, o professor do departamento de Letras da UFSM e diretor do CAL, Pedro Brum Santos, que abordou a influência da literatura na construção da história do Pampa gaúcho.

A data é emblemática porque é o marco inicial da Guerra dos Farrapos. Para o professor Quevedo, é a representação de “um passado histórico, glorioso e exitoso” e esta comemoração “é um conjunto de atos públicos e patrióticos, de enaltecimento a um passado idealizado, transmutado em fato fundante do Estado”. Já a relação entre o ‘20 de setembro’ e a figura do gaúcho pode ser entendida na explanação da professora Maria Padoin: “20 de setembro foi a tomada de Porto Alegre pelos farrapos em 1835. Esta data de tomada da capital da Província é uma data simbólica, que demonstra a força de um grupo contra o símbolo da sede do poder; poder este considerado tirânico. Assim, os farrapos são os defensores dos ideários revolucionários da época, de liberdade, humanidade e fraternidade que nortearão esse processo, mesmo com interpretações diferenciadas no transcorrer da guerra. O gaúcho na época da Revolução Farroupilha é o homem que trabalhava na lida com o gado, especialmente o da região da campanha fronteiriça, e que em muitas ocasiões se transformou em soldado nas lutas fronteiriças”, explica a docente.

O entendimento da importância do ‘20 de setembro’ para os gaúchos pode ser comparado ao dia 9 de julho para os paulistas – também feriado estadual, pois simboliza a Revolução de 1932 ou Guerra Paulista. Esta associação é lembrada pelo historiador e professor da UFSM, Diorge Konrad, que destaca que essas datas representam a construção das identidades regionais, a partir da volta ao passado.

Interesses diversos

Perguntas como quem ganhou, ou quem perdeu a guerra, são alguns questionamentos pertencentes a qualquer embate. Mas a Revolução Farroupilha tem suas especificidades, não somente pela longa duração (1835/1845), mas pelos diversos interesses que estavam por trás da “guerra”, sejam eles políticos, sociais ou econômicos. Para clarear alguns pontos a respeito da revolução, a professora Maria Padoin coloca que “a Província, na época, não perdeu a guerra, pois não eram todas as regiões e municípios da Província rio-grandense que eram adeptos da república Rio-Grandense ou dos ideários liberais que os farroupilhas defendiam”. A docente também pontua outra questão referente aos dirigentes da elite farroupilha que estavam no poder da República Rio-grandense no período do Acordo de Paz: “Não eram todos os mesmos que lideraram o movimento e que estiveram na presidência, pois havia entre essa elite uma divisão política e de interesses. Quem tratou o Acordo de Paz, em um momento de fragilidade, inclusive motivada pela própria divisão interna desta elite, foi David Canabarro e não Bento Gonçalves da Silva ou o proclamador da República e defensor da abolição”, comenta ela.

Elites preservadas

Quevedo discorre que “não se trata de perder ou ganhar, mas o que o fato fundante representa. Há várias faces do movimento farroupilha, entre eles, problematizar quem realmente perdeu e quem ganhou”. Para ele, “os setores das elites rio-grandenses ganharam com o movimento, entendido por alguns como revolução liberal de defesa dos interesses de uma parcela dos estancieiros e militares. Os primeiros tiveram as suas fortunas recuperadas ao final do movimento e os segundos tiveram a garantia da recomposição de vínculo ao exército brasileiro. No entanto, grande parte dos ‘Lanceiros Negros’ tiveram a morte premeditada na Traição de Porongos, arquitetada por alguns de seus líderes farroupilhas que não estavam dispostos a assumir o ônus da guerra como o direito à liberdade e indenizações garantidas aos cativos. Em relação ao Estado Escravista Brasileiro, após a guerra, houve a garantia da preservação dos direitos das elites, como a cidadania, a participação nos negócios do Estado e o não pagamento do tributo por propriedade (terras, escravos e gado)”, recorda o professor.

O gaúcho exaltado na literatura

A literatura acompanhou e registrou todo o processo de edificação da imagem do gaúcho e do Rio Grande do Sul. Para compreender estas influências literárias, confira um trecho da entrevista com o professor Pedro Brum Santos:
“É muito forte a influência da literatura. Desde as quadras do cancioneiro rio-grandense, presentes já na época da Revolução Farroupilha, até as primeiras manifestações da literatura dita cultura, na segunda metade do século XIX, já encontramos registro de feitos heróicos e aquela imagem conhecida como a do monarca das coxilhas: o gaúcho é rei e o cavalo é seu trono. Essa é uma figura, antes de mais nada, literária. No último quartel dos oitocentos, quando o positivismo republicano elege o gaúcho como símbolo da cultura rio-grandense, a literatura, que cantou os feitos desse tipo humano em prosa e verso, foi definitiva para afirmá-lo no imaginário da região”.

O vice-presidente da Sedusfm, Julio Quevedo, também relembra a relação da literatura com a construção imagética do RS e do gaúcho: “Desde o final do século 19, com o advento do ‘Partenon Literário’ que reunia um grupo de intelectuais rio-grandenses, vem sendo construído no RS uma imagem positiva do gaúcho, que de bandido, bandoleiro, foi transformado em herói, mitificado, até ser entendido ao longo do século 20 como identidade no RS. Os intelectuais orgânicos do Estado tiveram uma contribuição eficaz nesse processo de apropriação e empoderamento, principalmente durante aos governos civis-militares, após 1964”. Segundo Quevedo, atualmente o ‘Ser Gaúcho’ se interpõe ao ‘Ser Rio-Grandense’, já que os que nascem aqui acabam se identificando com a identidade gaúcha, “despertando e desenvolvendo por ela sensibilidades e sentimentos de pertencimento”, conclui o professor.

Texto: Carina Carvalho (estagiária)
Edição: Fritz R. Nunes (Jornalista)
Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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