'Pensamento único’ criticado no Cultura na SEDUFSM
Publicada em
28/10/11 18h24m
Atualizada em
28/10/11 18h25m
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Após exibição de “Inside Job”, debatedores avaliaram filme
Apesar de ter havido um consenso de que o filme “Inside Job” é um documento importante de que como foi construída a crise que levou à quebra de bancos e do setor imobiliário nos Estados Unidos, em 2008, também se concluiu que o documentário não vai à raiz do problema. Para os convidados a avaliar o conteúdo do filme, na 49ª edição do Cultura na SEDUFSM, quinta à noite, apesar dos méritos, o documentário não chega a questionar o “sistema” em si” e mantém a referência do “pensamento único”, através do qual se expressa a ideia de que hoje só temos o Capitalismo, sem qualquer contraponto.
Para o dirigente do Sindicato dos Bancários de Santa Maria, Marcello Carrion, o filme mostra a relação promíscua entre bancos, agentes públicos, agências de classificação de risco e professores universitários, mas, por outro lado, trabalha com o conceito “banqueiros bons” e “banqueiros maus”, o que desvia do foco do problema, que não tem a ver com uma questão moral, mas sim sobre a forma como os lucros são gerados no capitalismo financeiro.
O professor de História Contemporânea da UFSM, Carlos Armani, fez a relação entre o filme e a visão de Francis Fukuyama, propagador da tese do início dos anos 1990 de que chegamos ao “fim da história”, ou seja, o Capitalismo venceu e todas as crises dentro do sistema serão resolvidas por “ajustes dentro do próprio sistema”. Armani também estranhou que o documentário fale, de forma competente, sobre todas as falcatruas, pelo menos desde a década de 80, e que culminaram com a crise de 2008, sem, no entanto, abordar uma vez sequer a palavra “Capitalismo”. O historiador da UFSM também destaca que “Inside Job” desnuda muito claramente a influência do centro financeiro (Wall Street) sobre a academia estadunidense.
Bolha especulativa
Na avaliação do professor de Economia da UFSM, Sérgio Prieb, que também é diretor da SEDUFSM, a tão critica “bolha especulativa”, nada mais é do que uma forma alternativa de os grandes capitalistas ganharem dinheiro. Em que pese o fato de que o termo “crise” não é novo, pois vem sendo abordado pelo menos desde o século XIX, por Karl Marx, a abordagem do tema estava meio esquecida no meio universitário, e acabou sendo retomado após a quebradeira de 2008.
Prieb acredita que a crise teve um aspecto positivo, que foi a derrubada de um dos grandes mitos contemporâneos, disseminado pelos teóricos do Neoliberalismo, que se refere ao fato de que o Estado atrapalharia o mercado. “Mesmo que de forma distorcida, foi o Estado que teve socorrer os bancos na hora do aperto”, enfatiza o economista.
Durante as perguntas da platéia, formada por cerca de 30 pessoas, foram questionados os motivos de o Brasil ter sentido menos os efeitos da crise. Para o professor Sérgio Prieb, foi menos impactante no país porque o governo federal, de forma hábil, abriu linha de crédito, fortalecendo o consumo. Entretanto, os resultados dessa política, segundo ele, são preocupantes, pois levaram a um endividamento privado bastante grande. Na conjuntura atual, Prieb afirma que o Brasil já está sentindo os efeitos da crise que atinge a Europa. A demonstração disso é o pacote de corte de gastos (R$ 50 bilhões) do início de 2011 e as restrições salariais que vêm sendo impostas ao funcionalismo público.
Qual a solução diante desse quadro? Prieb defende que o sistema financeiro deveria ser estatizado, idéia também defendida por Marcello Carrion. Para o dirigente bancário, somente o controle do sistema financeiro pelo Estado poderá garantir que se mude a lógica privada que guia esse setor. Ainda segundo ele, o Brasil só não sofreu tanto quanto nos Estados Unidos, também porque aqui o setor financeiro tem um pouco mais de regulamentação.
Texto e fotos: Fritz R. Nunes
Assessoria de Impr. da SEDUFSM