O novo Imperador do Brasil SVG: calendario Publicada em 30/07/2025 SVG: views 155 Visualizações

 

"Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar ...Não estou surpreso em vê-lo liderando nas pesquisas; você foi um líder altamente respeitado e forte que serviu bem ao seu país...

Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política tarifária. É minha sincera esperança que o Governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar oponentes políticos e acabe com seu ridículo regime de censura. Estarei observando de perto." 

(carta de Donald Trump, o Grande, para Jair Bolsonaro, seu servo fiel).


Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o dólar, antes símbolo incontestável de estabilidade global, está se transformando em instrumento de poder pessoal. E isso, para muitos economistas, representa não apenas um risco cambial, mas um sintoma de uma crise mais profunda: a politização irresponsável de uma moeda que tem servido de referência não só para facilitar o comércio global como também de ativo de reserva. Por exemplo, a enorme vantagem comercial da China em relação aos Estados Unidos tem como contrapartida o déficit norte-americano que, por sua vez, é financiado com títulos do Tesouro americano adquiridos

O recente “tarifaço” contra o Brasil é outro exemplo emblemático. A justificativa? Suposta represália à condenação de Bolsonaro nos tribunais brasileiros. A consequência? Um abalo direto na relação comercial entre os dois países e uma instabilidade que o mercado cambial não perdoou. A diplomacia virou palco de vaidades ideológicas, enquanto empresários e investidores pagam a conta. Mas, talvez o ponto mais preocupante seja a tentativa de submeter o Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) aos caprichos do presidente. Trump já indicou que gostaria de ver cortes abruptos na taxa de juros — e não hesitou em ameaçar a liderança da autarquia.

Nesse cenário de instabilidade, os países do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — intensificaram as discussões sobre a criação de uma moeda própria para o bloco. A proposta, liderada por Lula, visa reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais e fortalecer a soberania econômica dos países emergentes. A ideia ganhou força após as tarifas de Trump, que foram vistas como uma tentativa de punir o Brasil por apoiar alternativas ao sistema financeiro dominado pelos EUA.

A crise ganhou contornos ainda mais graves quando vieram à tona as declarações de Trump condicionando o fim do tarifaço à anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro. A tentativa explícita de interferência judicial por meio de sanções econômicas é vista por juristas e diplomatas como uma forma de chantagem internacional sem precedentes.

Ao usar o poder comercial dos Estados Unidos como moeda de troca para livrar um aliado político de condenações judiciais, Trump não apenas afronta a soberania brasileira, como também compromete a legitimidade do dólar como moeda de troca internacional. Nesse caso, parece que Trump atirou no que viu (anistia para Bolsonaro) e acertou no que não viu (o fortalecimento da tese de criação de nova moeda). Pensando bem, “Bolsonaro não vale tanto”, Trump deve ter se dado conta, e direcionou a sua artilharia para os BRICs, estipulando tarifas de 10% para quem defende a criação de nova moeda. O reforço de um organismo multilateral, com a participação da China, é tudo que Trump não deseja.

Mas para entender o peso do dólar, é preciso voltar à sua origem como moeda internacional. Foi na Conferência de Bretton Woods, em 1944, que o dólar americano foi oficialmente consagrado como a principal moeda de reserva global, atrelado ao ouro. Esse acordo estabeleceu que as demais moedas seriam convertidas em dólar, e o dólar, por sua vez, em ouro.

O famoso economista John Maynard Keynes representou o Tesouro inglês nessa Conferência. Ele percebeu que a nova ordem internacional, sob a tutela do dólar, daria um poder incalculável aos americanos como emissores de uma moeda conversível que serviria de denominador comum para todas as outras moedas. A proposta de Keynes era a criação de um banco central internacional que emitiria uma nova moeda, de acordo com as necessidades de crescimento do comércio mundial. Como era de se esperar, os Estados Unidos foram contra a proposta. Desiludido, Keynes viria a falecer cerca de um ano depois (em 1946).

A partir daí, os Estados Unidos passaram a exercer um poder financeiro sem precedentes, emitindo dólares para financiar seus déficits enquanto outras nações precisavam entregar bens reais para obter a mesma moeda. Mesmo após o fim do padrão ouro em 1971 (governo Nixon), o dólar manteve sua hegemonia graças à confiança, liquidez e à rede transacional construída ao longo das décadas.

Hoje, essa hegemonia está sendo desafiada. Bancos centrais estão diversificando suas reservas, trocando dólares por ouro e estudando novas plataformas de pagamento. O índice DXY, que compara o dólar com outras moedas fortes, acumula queda histórica, e a pergunta que ecoa nos mercados é clara: o dólar está perdendo sua supremacia como moeda de reserva?

Nada indica, por enquanto, que isso está prestes a acontecer. Falta consenso dos países sobre a criação de uma moeda para substituir o dólar. Porém, Trump parece governar como se o dólar fosse um instrumento pessoal de negociação — ou chantagem. Mas moedas não obedecem à lógica da política. Elas respondem à confiança, à previsibilidade e à estabilidade. O “tarifaço” de Trump passou por cima de tudo isso e colocou o último prego no caixão da ordem internacional, baseada no multilateralismo, construída no pós-guerra.

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por José Maria Pereira
Doutor em Economia, professor aposentado do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM e também da UFN

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