SEDUFSM e a luta contra precarização e privatização
Publicada em
27/11/14
Atualizada em
27/11/14 18h11m
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Defesa do caráter público da saúde e da educação marca os 25 anos da seção sindical

O fortalecimento da empatia fora um dos legados mais importantes do sindicalismo na vida do professor Rondon de Castro. Reconhecer na dor do outro o seu próprio sofrimento, e sensibilizar-se frente a isso. “Você se preocupar que existem indígenas passando frio, que existe uma empresa israelense em Santa Maria que patrocina o bombardeio de palestinos na Faixa de Gaza. Isso tudo eu acho que me tornou mais humano”, diz o docente, cuja trajetória na luta sindical já vem de anos, mas é a partir de 2008 que passara a militar organicamente na SEDUFSM como secretário-geral na gestão ‘Unidade Docente’. Já em 2010, assume como presidente do sindicato na gestão de mesmo nome, que finda em 2012. Rondon, então, segue presidindo a entidade por mais dois anos na diretoria ‘Trabalho docente e compromisso social na UFSM’, de 2012 a 2014.
Ainda em seu primeiro mandato, dois momentos foram centrais para explicitar a realidade de precarização a que as universidades públicas vinham sendo submetidas: a Medida Provisória (MP) 520, lançada em dezembro de 2010, e a greve docente de 2012. Enquanto a primeira representava a investida do governo federal sobre o caráter 100% público dos hospitais universitários, a segunda escancarou a contradição no projeto de expansão universitária do governo petista, que ampliara o acesso ao ensino superior sem a ampliação necessária de verbas, de estrutura e de pessoal para atender às novas demandas.
Na UFSM, os primeiros indícios mais fortes de insatisfação vieram exatamente do Centro de Educação Superior Norte (CESNORS), oriundo desse projeto de expansão precarizada. Rondon ainda lembra a falta de uma estrutura mínima de funcionamento nas unidades de Palmeira das Missões e Frederico Westphalen, carentes, naquela época, de questões básicas como telefone e acesso à internet. “Todas aquelas promessas de crescimento através do REUNI já começavam a dar mostras de que estavam falhas. Deixou de haver o repasse dos recursos, de haver concursos, pararam obras no país inteiro, muitos cursos eram criados e não tinha prédio ou laboratórios para que pudessem funcionar”, diz o ex-presidente, frisando que aquele movimento paredista foi singular para a aproximação de muitos docentes à luta sindical.
Foi uma das greves mais longas da história do ANDES-SN, que apresentou, também, novos desafios organizativos a muitas seções sindicais, dentre essas, a SEDUFSM. A expansão trouxe consigo uma nova realidade, a multicampi, em que se descentralizam da sede algumas unidades de ensino, tornando mais difícil a tomada de decisão conjunta entre os professores lotados na sede e aqueles que trabalham no interior. Em 2012, por exemplo, uma assembleia realizada no CESNORS deliberou greve naquelas unidades. Já numa assembleia posterior em Santa Maria, Rondon lembra que se tinham muitas dúvidas sobre se a decisão tomada no CESNORS valeria para toda a UFSM. Se assim fosse, os docentes lotados em Santa Maria também estariam em greve. São vários os exemplos das necessidades que esse novo cenário multicampi trouxe ao movimento sindical, cujos olhos vêm se voltando mais a tal questão, do que é exemplo o Seminário de Estrutura Organizativa do ANDES-SN, realizado recentemente em Brasília.
Organizar a resistência
Nos quatro anos em que esteve à frente da SEDUFSM, Rondon de Castro teve de organizar, junto às duas diretorias, obstáculos de resistências aos constantes ataques feitos, principalmente, à educação e saúde públicas. Uma das lutas mais fortes que perpassou suas duas gestões como presidente foi a travada em torno, primeiramente, da MP 520 e, depois do projeto que sucedeu a Medida Provisória, que estruturava a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Numa clara tentativa de ferir a autonomia universitária e o caráter público da saúde, o governo federal apresentou a empresa pública de direito privado como saída para as debilidades de financiamento e gestão na saúde. Extremamente duro fora o embate travado no seio da instituição para que a privatização não chegasse a Santa Maria. Atos públicos, abaixo-assinados, plebiscitos e diversas outras atividades de mobilização foram organizadas pela SEDUFSM em conjunto com outras entidades de trabalhadores e movimentos sociais organizados. “A comunidade assumiu os abaixo-assinados, participou dos atos. Por isso mesmo foi tão criminoso o ‘canetaço’ dado pelo então reitor, Felipe Müller. A comunidade daqui participou da rejeição a essa empresa”, recorda Rondon.
Se é possível serem tirados saldos positivos do processo de entrega do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), um desses foi a unidade alcançada entre os docentes e técnico-administrativos em educação (TAEs). No decorrer desse período, a parceria entre os dois segmentos da universidade esteve alicerçada sobre bases muito concretas e sinceras, de forma que abriu caminho para lutas conjuntas futuras. “Se não tivesse sido um golpe não teria passado”, conclui o professor ao falar da forma autoritária e antidemocrática como fora implementada a EBSERH na UFSM, em dezembro de 2013, com a decisão Ad Referendum de Müller.
Luta por justiça
Comprovando, na prática, que a atuação do movimento sindical docente não se encerra nas reivindicações próprias da categoria, a SEDUFSM fora não somente aliada, mas propositiva, frente aos movimentos que até hoje cobram justiça e responsabilização pela tragédia na boate Kiss, ocorrida em 27 de janeiro de 2013. Desde os primeiros momentos posteriores à notícia do incêndio, o sindicato mostrou-se prestativo e solidário à dor dos familiares e amigos que perderam pessoas queridas na noite mais longa que Santa Maria e o estado do Rio Grande do Sul já viveram.
Passados os momentos iniciais que sucederam a tragédia, a seção sindical soma-se ao Movimento Santa Maria do Luto à Luta e à Associação de Familiares de Vítimas e de Sobreviventes da Tragédia na Boate Kiss (AVTSM). Fora aliada incondicional nas mobilizações que iniciaram logo após o incêndio e se desdobraram em vários momentos desses quase dois anos. Rondon conta que algumas pessoas criticavam o sindicato por se envolver em uma pauta que transcendia a questão docente, porém, para o professor, a busca por justiça faz parte da tônica de um sindicato. Um dos fatores centrais, também, de doação da entidade a tais mobilizações fora o impacto que a tragédia tivera sobre a UFSM, já que das 242 vítimas fatais, 117 eram estudantes da universidade.
CONAD e o amadurecimento organizativo da SEDUFSM
E foi nos últimos 12 meses da gestão de Rondon que a SEDUFSM sediou, pela segunda vez, um evento nacional do ANDES-SN. A primeira havia sido em 1996, quando da vinda do XV Congresso. Dezessete anos depois, a seção sindical novamente recebe e organiza um dos espaços deliberativos mais importantes do Sindicato Nacional, o CONAD. Para a 58ª edição do evento, muitos foram os preparativos, pois era preciso não só garantir que o evento acontecesse livre de problemas como abrigar da melhor forma possível os professores que se deslocariam até a cidade.
“Garantimos a discussão, o debate e a democracia dentro do ANDES-SN”, avalia Rondon, para quem a capacidade organizativa da SEDUFSM foi reafirmada, mais uma vez, quando da organização desse evento, ocorrido em julho de 2013. Já comprovada em momentos anteriores – como na organização de atos e shows públicos, greves e demais atividades -, a organização da seção sindical que este ano completa duas décadas e meia de existência foi reafirmada quando esta garantiu um evento impecável, estrutural e politicamente.
*Os depoimentos contidos nesta matéria são trechos de entrevistas concedidas para a elaboração do documentário ‘Sonhos não envelhecem: 25 anos da Sedufsm’, com previsão de lançamento para dezembro deste ano.
Texto: Bruna Homrich
Imagem: Arquivo/SEDUFSM
Edição: Fritz R. Nunes
Assessoria de Imprensa da SEDUFSM
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