Docente da Unesp diz que autoritarismo não foi superado SVG: calendario Publicada em 31/03/15
SVG: atualizacao Atualizada em 31/03/15 21h20m
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Professor e sindicalista relata perseguição a militantes em São Paulo

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Fábio Okada, da Unesp, que integra também a Rede de Comissões da Verdade universitárias

O militarismo e a visão autoritária não fazem parte do passado. Estão presentes na sociedade atual como um legado dos períodos em que o país passou por ditaduras. A constatação é do professor Fabio Ocada, do departamento de Sociologia da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), campus de Marília, que faz parte também da Rede de Comissões da Verdade Universitárias.

Ele relata, inclusive, que após a greve de 2014, que atingiu as três principais instituições de ensino superior paulistas – USP, Unicamp e Unesp- houve, especialmente no caso da Unesp, uma verdadeira caça às bruxas, com os reitores utilizando práticas da época da ditadura para excluir estudantes ou responsabilizar docentes e técnicos por posturas supostamente de incitação à greves.
 

Ocada, que também é dirigente do sindicato docente (Adunesp), participou na manhã desta terça, 31, da primeira mesa do seminário nacional da Comissão da Verdade do ANDES-SN, que tinha como tema “Os movimentos em luta por memória e justiça”. As exposições e os debates prosseguem até esta quarta, 1, no Auditório da Faculdade de Educação (Faced) da UFRGS, em Porto Alegre.

Perseguição aos estudantes

Conforme Fábio Ocada, foram 120 estudantes suspensos e 17 expulsos em virtude de participarem das mobilizações em defesa de uma política de permanência estudantil na Unesp. A Administração alegou que teria havido destruição do patrimônio público em manifestações promovidas pelos estudantes.

Essas exclusões ou suspensões foram feitas sem que esses acadêmicos tivessem direito a ampla defesa. O sindicato docente prestou assessoria jurídica aos acusados, pois eles não tinham um diretório acadêmico formalmente organizado. Segundo o professor, o Judiciário acolheu os argumentos contrários aos atos de perseguição, mas até o momento a reitoria não cumpriu a decisão de reintegrar esses estudantes. Já o Conselho Universitário, na interpretação de Ocada, mantém-se subordinado à reitoria.

Sindicância contra servidores

Fábio Ocada denuncia que, no campus de Presidente Prudente, 12 servidores foram submetidos a um processo de averiguação que foi seguido de uma comissão de sindicância. O processo de investigação, relata o incrédulo professor, baseia-se em denúncias anônimas que afirmavam que os acusados estariam andando pelo campus questionando as condições de trabalho, criticando a reitoria. Em outras unidades, as denúncias são de assédio moral e outros tipos de perseguições. “Há um monitoramento constante das atividades”, frisa Ocada.

Massacre dos povos originários

O professor Fábio Ocada teve na mesma outros convidados junto com ele, como por exemplo, Egon Dionísio Heck, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Heck discorreu sobre as posturas do governos do regime autoritário, que sempre viram nos indígenas um entrave para desenvolver políticas de homogeneização da sociedade e levar o Brasil ao “progresso”. Segundo ele, é constante na história do país a tentativa de negar a presença do índio. Graças a esse tipo de visão, os povos indígenas têm sido massacrados ao longo dos últimos séculos, a tal ponto de hoje serem uma ínfima parcela das etnias que já existiram no Brasil.

Na análise do coordenador do Cimi, as entidades que foram criadas para pretensamente cuidar dos indígenas, como por exemplo, a Funai, nada fizeram além de reproduzir políticas que levaram à exclusão desses povos. Heck enfatiza que a visão sempre foi de “colonizadores” em relação aos “colonizados”, transformando a realidade dos indígenas em moeda de troca, aguçando a exploração dos bens naturais, gerando corrupção. Para o missionário, esse tipo de política, aplicada em períodos de ditadura, não diferem das existentes hoje, em que a legislação não é cumprida, os poucos avanços têm sido vencidos pelo retrocesso em função do avanço do capital.

A ditadura empresarial

Fazendo parte da mesa que discutia a luta por memória e justiça, Amanda Menconi Hornhardt, da Comissão da Verdade do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (Sindmetal) falou sobre o minucioso trabalho de pesquisa que tem sido realizado para resgatar, mesmo em arquivos oficiais do Estado, o colaboracionismo que existia entre empresas (estatais e privadas) e órgãos de informação (espionagem) com o intuito de cumprir o papel repressivo do governo militar.

O serviço estatal repressivo tinha informações pormenorizadas sobre os “subversivos”, que eram aqueles que se envolviam em alguma manifestação ou greves. Esses indivíduos acabavam sendo demitidos, e suas fichas funcionais “sujas” eram espalhadas, o que acaba fazendo com que empresas daquela região não os contratassem.

Sucedendo a fala de Amanda, o dirigente da CSP-Conlutas e também do Sindmetal, Luís Carlos (Mancha) ressaltou que esse tipo de prática não se resumia a São Paulo. Ele disse que ao participar da Comissão da Verdade relativa ao meio sindical, pode constatar que o modus operandi se estendia a outras empresas, em outros estados.

Emoções femininas

Um dos depoimentos mais tocantes foi o de Justa Helena Franco, que é presidente do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN/Fiocruz). Em uma das instituições mais relevantes de pesquisas em saúde do país (Fiocruz) também foi instalada uma Comissão da Verdade, e através dela tem sido ouvidos filhos e netos de perseguidos durante o regime militar.

Justa se emociona ao dizer que, durante muito tempo, ela mesma não conseguia falar sobre a ditadura. Isso porque seu pai, o Tenente Coronel Eden de Oliveira Braga, foi preso pelo regime e acabou morrendo, dois anos depois, em um hospital militar. Segundo ela, nunca houve um laudo que comprovasse a causa mortis.

Da mesma forma, Maria Bernadette de Moraes, do Conselho Federal do Serviço Social, relatou o trabalho que vem sendo realizado no órgão em relação ao resgata da memória e justiça. Ela também apresentou um vídeo, com recortes de inúmeras assistentes sociais que foram perseguidas políticas. Para Bernadette, dentre as heranças do regime militar estão a institucionalização da violência, o massacre dos povos indígenas, a estruturação de impérios midiáticos. Para ela, é preciso resgatar a memória do que foi esse período vivenciado pelo Brasil para que se consiga estruturar uma resistência, evitando que esses fatos jamais se repitam.

Texto e foto: Fritz R. Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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