Paridade de gênero marca debates de encontro regional do ANDES-SN SVG: calendario Publicada em 19/09/18 18h53m
SVG: atualizacao Atualizada em 19/09/18 18h56m
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Realizado nos dias 14 e 15/09, em Porto Alegre, encontro reuniu seções sindicais de todo o RS

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Realizado nos últimos dias 14 e 15 de setembro, em Porto Alegre, na sede do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), o XIX Encontro da Regional Rio Grande do Sul do Andes Sindicato Nacional reuniu docentes de todo o estado para discutir temas chaves da educação e da categoria. Entre esses temas, um deles não poderia ser mais latente na atualidade: a luta das mulheres. Nesse sentido, na manhã do segundo dia do evento, sábado, 15, a mesa “Paridade de Gênero no ANDES-SN” mobilizou a plateia na discussão sobre a participação feminina em espaços políticos como o próprio sindicato. Na condução da discussão, a 1ª secretária do ANDES-SN, Jacqueline Rodrigues de Lima, a vice-presidenta da Seção Sindical do ANDES-SN no IFRS (SindoIF), Andréia Meinerz, e a secretária geral também do SindoIF, Manuela Finokiet.

Iniciando o debate, a diretora do ANDES e docente na Universidade Federal de Goiás (UFG), Jacqueline Rodrigues de Lima, apontou um marco simbólico para o surgimento de discussões e ações mais incisivas sobre a violência contra mulheres dentro do sindicato nacional: o 36º Congresso nacional da entidade, realizado em Cuiabá, em 2017. Na ocasião, mulheres presentes promoveram um ato de denúncia contra o assédio e outros tipos de violências cometidos em espaços do sindicato, incluindo aquele próprio congresso. Dali em diante, o ANDES-SN intensificou e muito suas ações a respeito do tema. Campanhas foram conduzidas, ações e atividades de caráter formativo foram realizadas, e, na esteira disso, ganhou corpo a discussão que defende um caráter regimental e institucional no que toca a participação das mulheres na vida da entidade. Em sua fala, Jacqueline inclusive apresentou, através de gráficos, a história da participação das mulheres nas próprias diretorias do ANDES desde 1981. Dessa maneira, um ano depois, no 37º congresso do sindicato, um texto de resolução foi proposto, a partir da base da categoria e contando com a assinatura de docentes de todo o Brasil, defendendo a adoção da paridade de gênero na composição das diretorias da entidade. “E foi para debate. Olha, foi um momento riquíssimo. Em alguns grupos se demorou mais de duas horas para debater paridade e isso mostrou bem o estranhamento”, declarou a 1ª secretária do ANDES. Nessa toada, segundo Jacqueline, o ANDES segue discutindo, assim como orienta as seções sindicais a colocar a questão em pauta, preparando acúmulos para o debate que, como em qualquer mudança regimental, precisa ser tratado na instância máxima da entidade: o congresso.

Aproveitando justamente o momento ainda de discussão, Jacqueline tratou também de destacar um aspecto importante que deve estar no horizonte, que trata da construção de uma paridade não burocrática, conforme algumas experiências – já em vigor – apresentam. “O que a gente percebe analisando os materiais que são produzidos, os estudos que são feitos e a própria prática, é que ainda persiste o modelo de paridade burocrática, que é o que nós não queremos para o nosso sindicato. A paridade burocrática seria aquela que fala assim ‘olha, nós somos obrigados a ter uma quantidade de mulheres, então vem aqui, quebra o galho e coloca seu nome’. Não é isso que a gente quer”, afirmou. Por fim, a docente destacou que embora todas essas discussões ainda estejam ocorrendo e possuam papel fundamental, muitas ações corriqueiras e mais simples de serem executadas já foram colocadas em prática. Uma delas é a presença de espaços de recreação e também um suporte financeiro para mães que precisem levar suas crianças para eventos como congresso e Conad. Aliás, a orientação é de que as seções sindicais também coloquem em prática tais políticas em atividades locais. Em Santa Maria, a Sedufsm já oferece um espaço infantil, monitorado por uma recreacionista, na maior parte dos eventos e reuniões.

Do macro ao micro

Dando sequência ao debate, a vice-presidenta do SindoIF, Andréia Meinerz, e a secretária geral também do SindoIF, Manuela Finokiet, destacaram um pouco da experiência de construção da luta das mulheres, dentro da mais jovem seção sindical do ANDES-SN. Ali, segundo relataram, a organização da pauta de gênero teve como ponto fundante um caso de assédio contra uma docente – cujo agressor é também um docente – a partir do qual foi criado o “Grupo de Trabalho (GT) de Mulheres”. Com a constituição do GT, uma roda de conversa de mulheres foi realizada no campus de Osório e mais e mais relatos de violência foram trazidos. Disso, um texto intitulado “Manifesto (em construção) de Mulheres do Ifrs - Carta De Osório” foi construído, divulgado e entregue à reitoria. “O assédio contra a mulher é algo tão corriqueiro, tão sistemático, está acontecendo tanto, e ao mesmo tempo a gente não tem mecanismos de constranger, educar e, eu acho, de punir”, destacou Manuela. Além disso, a secretária geral discorreu também sobre diferentes níveis nos quais pode se manifestar o machismo. Para ilustrar esse raciocínio a docente exibiu no telão uma imagem da posse de Michel Temer, após o golpe de 2016. Na foto, Temer é cercado exclusivamente por homens. Na sequência, traçando um paralelo com a foto, Manuela expôs a programação de um evento acadêmico no qual das 11 atividades realizadas, entre mesas, palestras e mini-cursos, constava apenas o nome de uma mulher como responsável por um mini-curso. “E a resposta foi: ‘ah, vamos fazer um evento sobre diversidade e a gente coloca todo mundo lá”, afirmou Manuela, que ainda complementou: “o nosso grande desafio é que isso não precise ser sempre sinalizado. Que isso esteja presente. Que em qualquer evento, mesa, espaço, em qualquer conselho, em qualquer comissão que vá se constituir, a gente pense em representatividade étnico-racial, porque ainda infelizmente não se consegue falar em paridade, e a gente pense em paridade de gênero. Porque a gente não sabe como atuar nesses espaços e ficamos muito impressionadas com o quanto vocês homens se sentem sempre muito à vontade para ocupar todos os espaços”, concluiu.

Compartilhando da experiência de Manuela, a vice-presidenta do SindoIF, Andréia Meinerz, avalia a situação dos assédios como extremamente grave. E nesse cenário, o sindicato assume um papel fundamental – inclusive pela falta de opção. “Nesse menos de um ano de sindicato, o que a gente mais recebe são denúncias de assédio. Então não é que o papel do sindicato seja só esse, de maneira nenhuma, mas é que as pessoas não sabem mais para onde recorrer por conta da impunidade das instituições. Porque como não tem um mecanismo de encaminhamento, a questão da punição acaba sendo uma premiação para os assediadores. Nós temos casos de assediadores que saem para doutorado, quatro anos, com dinheiro, com afastamento, e as colegas tem que assumir as turmas do indivíduo que saiu em licença. Então a gente é duplamente punida”, aponta a professora. Ilustrando essa naturalização do assédio, Andréia relatou um caso recente, ocorrido no seu próprio campus, na Restinga em Porto Alegre. Segundo a vice-presidente do SindoIF, uma colega recém chegada ao campus foi encaminhada a uma sala. No local, ouviu de colegas o questionamento: É feminista? Se é nós não queremos aqui. A sala das feministas é aquela ali. “Apontaram para a minha sala e eu fiquei orgulhosa por ser reconhecida como feministas, mas essas coisas acontecem e ninguém faz nada porque foi naturalizado”, afirmou a docente, que lembrou ainda que o SindoIF solicitou à reitoria do IFRS um levantamento de quantas mulheres são docentes na instituição e quantas ocupam, por exemplo, cargos de chefia ou coordenação. Tais dados, mesmo com o comprometimento da reitoria, ainda não foram fornecidos, o que é visto como um sintoma de um assunto “não importante”. Por fim, a vice-presidente do SindoIF ainda destacou o caráter pedagógico de políticas como a paridade – e reforçou o papel do sindicato nesse processo. “Por que é importante para um sindicato quando prepara um evento, ou para a direção das instituições, para as coordenações, sempre pensar e insistir na paridade? Porque é educativo. É educativo na sala de aula e acho que nós, da luta sindical, temos que ser protagonistas nisso também”, concluiu.


 

Ataques à educação

Para além do debate sobre paridade de gênero no ANDES-SN, o XIX Encontro da Regional RS também contou com outras duas atividades. Na abertura do evento, na sexta-feira, 14, a mesa “Os ataques financeiros e ideológicos contra a educação pública”, promoveu um importante debate sobre o duro período recente, com enfoque especial aos cortes orçamentários e à projetos como o “Escola Sem Partido”. Na mesa, falando especificamente sobre o contexto financeiro da educação pública, o 1º vice-presidente da Regional Nordeste I do ANDES-SN, Osmar Gomes de Alencar Júnior, fez um apanhado da mais recente crise econômica global, passando pelas opções políticas dos últimos governos brasileiros perante esse cenário (como a manutenção do pagamento da dívida e a transferência de recursos públicos para o setor privado) e chegando até os impactos atuais em setores como a saúde e a educação. Para Osmar, uma das expressões máximas desse momento é a edição da Emenda Constitucional 55, conhecida como a “PEC do teto de gastos”. Com a emenda, tratando-se da educação, o governo coloca em curso medidas “necessárias” ao cenário de restrição orçamentária, como, por exemplo, a desestruturação da carreira, o contingenciamento de verbas – o que obriga a negociação de verbas através de emendas parlamentares –, os cortes em bolsas, a ampliação do setor privado dentro das instituições e a aprovação do marco de ciência e tecnologia – que também atua no sentido de ampliar a presença do setor privado nas instituições públicas.

Somando ao debate uma outra perspectiva que não a financeira (mas complementar a essa), a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Russel Teresinha Dutra da Rosa, resgatou a trajetória do projeto “Escola Sem Partido”, em especial no estado, assim como compartilhou um pouco da experiência de resistência da Frente Gaúcha Escola Sem Mordaça. Sobre esse segundo ponto, aliás, Russel destacou a importância de se criar uma rede de apoio para professoras e professores que estão sofrendo perseguição política em seus ambientes de trabalho, com suporte técnico sobre como proceder nessas situações, além da produção de materiais informativos a respeito do perigo da proposta. Assim, cartilhas, campanhas, documentários e livros já foram produzidos e, principalmente, precisam ser compartilhados – um desses materiais, trata-se de um manifesto assinado por 72 entidades e recentemente entregue às candidaturas da eleição presidencial que se aproxima. Aliás, tratando de eleições, a docente da UFRGS destacou que a aprovação do projeto em nível nacional passa diretamente pelo congresso federal que teremos em breve, já que, na melhor das hipóteses, a discussão será feita em plenário. Nesse momento, a versão do “Escola Sem Partido” em discussão é tratada como ainda mais perigosa, embora mais “camuflada”. Conforme Russel, existe inclusive a possibilidade de inserção do projeto na Lei de Diretrizes de Base, a LDB. Encerrando sua fala, a professora ainda destacou que a melhor maneira de combater a doutrinação é com a pluralidade de ideias, e não com a censura.

Fórum das Seções

Na tarde de sábado, 15 encerrando o evento, ainda foi realizado o Fórum das Seções Sindicais. No espaço, as seções presentes apresentaram informes sobre as lutas e pautas do último período em cada local. Além disso, a plenária fez uma breve avaliação sobre a realização da etapa estadual do Encontro Nacional de Educação, e uma rápida discussão a respeito da implementação da paridade de gênero no ANDES-SN. Estiveram presentes no evento Sedufsm, Aprofurg, Adufpel, SindoIF, Seção Sindical do ANDES na UFRGS e Sesunipampa.

Confira as galerias dos dois dias do evento aqui, aqui e aqui.

Texto e fotos: Rafael Balbueno

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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