Pais de vítimas da Kiss esperam ‘desculpas do Estado’ e maior apoio
Publicada em
25/01/19 18h21m
Atualizada em
25/01/19 18h24m
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Flávio Silva, da AVTSM, e Carina Correa, foram entrevistados do ‘Ponto de Pauta’

A demora pela justiça tem o sabor amargo da injustiça. A frase é de Flávio Silva, vice-presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), se referindo aos seis anos que estão sendo completados no domingo, 27 de janeiro, sem que tenha havido uma punição efetiva para os principais responsáveis pelo incêndio na casa noturna, naquela madrugada de 27 de janeiro de 2013. O diretor da AVTSM participou da edição mais recente do programa ‘Ponto de Pauta’, da Sedufsm, junto com Carina Corrêa, uma das ‘Mães de janeiro’ e que também fez parte do movimento Santa Maria do Luto à Luta, que nos primeiros meses após a tragédia, foi responsável por ações contundentes na cobrança de responsabilidades, especialmente dos agentes públicos.
Enquanto os órgãos públicos não conseguem atender a demanda por justiça, os familiares, os sobreviventes, vão tocando a vida, e em vários momentos, revivendo o que a jornalista Daniela Arbex bem captou em seu livro: “Todo o dia a mesma noite”. Carina Corrêa conta que praticamente todas as noites, por volta de 3h da manhã, ela acorda, revive tudo de novo, e demora a conseguir dormir de novo. Às vezes acorda sobressaltada, em pânico. Perguntada, ela admitiu que não teve condições emocionais de ler o livro da jornalista mineira, que reconstitui, com riqueza de detalhes, os acontecimentos naquele 27 de janeiro, seis anos atrás. Já Flávio Silva leu, gostou tanto, que procurou ler aos poucos, com calma, ao longo de um mês, para não se dispersar.
Apoio do Estado
Perguntado sobre o apoio do Estado aos sobreviventes, aos familiares, Flávio Silva disse que essa estrutura deixa a desejar. Afora o atendimento do Hospital Universitário, e do programa ‘Acolhe’ do município, o restante é falho, especialmente por parte do governo estadual, que, segundo o vice-presidente da AVTSM, relegou ao segundo plano a questão dos familiares e sobreviventes desde o início do governo Sartori. Ele citou ainda o apoio, na parte de medicamentos, da farmácia São João, que cadastrou dezenas de famílias, e vende medicamentos a preços bem em conta.
A falta de sensibilidade também deixa suas marcas. Carina Corrêa relatou que ficou chocada quando, ao fazer uma perícia no INSS, ouviu de um médico que o período do luto, após cinco anos, já passou, e que o governo não deveria continuar gastando com os familiares. Para ela, falta as autoridades saírem de seus gabinetes e perceberem que, mesmo passados seis anos, as pessoas, individualmente, ainda vivem seus dramas, ainda se sentem adoecidas. O sentimento de Carina pode ser resumido em uma frase: "Eu ainda lembro do cheiro daquela noite", diz ela.
Corte Internacional
Questionados sobre a denúncia que foi feita à Corte Internacional de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), as impressões são diferenciadas. Flávio Silva diz que existe possibilidade de haver alguma punição ao Estado brasileiro, mas que essa seria feita através de indenização por danos morais. No entanto, para ele, ressarcimento financeiro não representará a justiça verdadeira.
Já Carina Corrêa considera que esse tipo de condenação significaria, pelo menos, uma espécie de “pedido de desculpas” em relação ao que ocorreu. “Desculpas, pelo Brasil ter matado a tua filha”. E acrescenta: “Eu sei que nenhum dinheiro do mundo vai trazer ela de volta, aliviar meus pesadelos, ou cessar a falta da minha filha. Mas eu quero um pedido de desculpas por terem assassinado a minha filha. Alguma forma de envergonhar o meu país”.
Acompanhe a íntegra do ‘Ponto de Pauta’ com Flávio Silva e Carina Corrêa.
Texto: Fritz R. Nunes
Imagem: Rafael Balbueno
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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