Santa Maria pode ter problemas no acesso à saúde, avalia docente da UFSM SVG: calendario Publicada em 28/05/20
SVG: atualizacao Atualizada em 16/07/20 10h37m
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Marcos Lobato também considera que retomada e intensificação de medidas restritivas podem ser necessárias

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Capacidade de atendimento dos serviços de saúde é elemento fundamental nesse cenário, avalia Marcos Lobato.

A elaboração de estratégias no combate à Covid-19 exige equacionar uma série de questões em cada cidade, região ou estado. O número de casos, o crescimento ou não destes, o número de mortes e a capacidade de atendimento dos serviços de saúde são algumas das variáveis que devem ser levadas em conta antes de se cogitar, por exemplo, medidas como a retomada das atividades comerciais presenciais. E em Santa Maria, a equação final dessas variáveis é motivo de preocupação. Isso porque no atual ritmo de crescimento de casos – especialmente os graves – é possível que a cidade tenha, em breve, problemas no acesso a serviços de saúde.

Essa é a opinião do professor do Departamento de Saúde da Comunidade da UFSM, Marcos Lobato. Para o docente, os indíces vividos hoje na cidade indicam também que novas e mais rigorosas medidas restritivas podem ser necessárias futuramente – caso a situação se mantenha com o atual ritmo. Por isso, para o professor, não é o momento de “afrouxar mais o isolamento”.

Várias epidemias dentro da pandemia

Para Lobato, que além da saúde coletiva também tem na epidemiologia uma das suas áreas de atuação, essas diferenças regionais fazem com que estejamos vivendo várias epidemias dentro da pandemia. Nisso, elaborar um projeto de ação padrão para todas as cidades não parece sensato ao professor da UFSM, que defende a informação como uma das ferramentas centrais para se agir nesse contexto. Segundo o professor, ter em mãos os indicadores da situação envolvendo a Covid-19 na cidade é fundamental para se elaborar uma estratégia eficaz.

Contudo, apesar da necessidade de se avaliar cada realidade a partir de seus indicadores locais, Lobato vê com muita preocupação a situação do interior do estado como um todo. Isso porque, segundo o docente, o acesso aos serviços de saúde tem se mostrando como a variável mais importantes no combate ao novo coronavírus. Esse acesso à saúde, no entanto, não é qualquer acesso, já que a Covid-19 demanda a oferta de unidades de tratamento intensivo, as UTIs. No caso do interior do estado, a oferta tanto dessas unidades quanto de profissionais especializados é consideravelmente menor, aponta Lobato.

A seguir, confira a íntegra da entrevista que realizamos com o professor da UFSM, Marcos Lobato.

Sedufsm - Muito tem se falado sobre a tendência de interiorização da Covid-19. Os relatórios produzidos pelo Observatório da Covid-19 https://www.ufsm.br/coronavirus/observatorio/ na UFSM, em especial os relatórios ligados ao Programa de Pós-Graduação da Geografia, até o momento confirmam essa tese, correto? O que, trocando em miúdos, significa essa interiorização? O interior gaúcho tende a ter suporte para enfrentar essa situação?

Marcos Lobato - Sobre a interiorização, a chegada aos municípios mais distantes da capital passa por dois momentos. Primeiro a chegada da doença aos municípios pólo. Após, em muitos casos, a partir destes para os municípios menores. A dispersão da epidemia segue o que os geógrafos chamam de uma hierarquia, de cidades maiores para cidades menores. Em cada local temos uma dinâmica diferente de transmissão na população, dependendo de várias características, onde a densidade populacional e a circulação das pessoas parecem até agora serem as mais relevantes.

Quanto ao suporte para enfrentar a situação depende de cada região. No caso desta epidemia onde os doentes demandam cuidados em UTIs, a situação do interior é bem preocupante. O motivo é que historicamente as regiões metropolitanas e principalmente as capitais são onde se concentram estes serviços, e mesmo que tivéssemos leitos e equipamentos o interior carece de profissionais em número suficiente para fazer serviços tão especializados funcionarem.

Sedufsm - Em paralelo ao processo de interiorização pelo qual o vírus está passando, temos a discussão da abertura do comércio e do fim do isolamento. Como o senhor avalia o fim do isolamento e a proposta de isolamentos diferentes para cada região, defendida pelo governo do estado?

Marcos Lobato - Na resposta da pergunta anterior abordo alguns elementos que ajudam agora. Uma conclusão é que o processo de interiorização não é uniforme nem no tempo onde ocorre e muito menos no espaço onde se dá a transmissão. Daí se diz que temos várias epidemias dentro da pandemia, porque cada local, cada população e cada momento podem ser diferentes. Mesmo que no mesmo tempo cronológico, não temos sincronia. Portanto, a eficácia do controle depende da situação de cada local. Tratar todos os territórios, municípios, e regiões da mesma forma não parece sensato. Mas como saber o que fazer? Só através de informações! Usar indicadores é o mais importante, saber como está a situação de saúde para agir de acordo com essa. Então, abrir o comércio depende se temos muitos ou poucas casos, se número de casos está crescendo, se temos condições de atender os doentes. E a última é a questão mais importante, a letalidade da doença está, segundo os dados que temos, mais relacionada ao acesso a serviços de saúde, do que as demais questões.

Sedufsm - Santa Maria registrou três mortes por Covid-19 até o momento. Isso aponta algo a respeito do estágio no qual a cidade está com relação à doença? Além disso, estudos do Observatório fizeram um mapeamento do número de casos a partir dos bairros de Santa Maria, sendo o centro da cidade o ponto com maior incidência. Da perspectiva da abertura do comércio, isso não representa um potencial problema?

Marcos Lobato - Sim representa, porque se seguirmos este ritmo de crescimento de casos e de casos graves principalmente, teremos problemas de acesso a serviços de saúde. Difícil prever, porque tem muitas variáveis envolvidas. Mas como respondi antes, o que determina em muito a letalidade é o acesso aos serviços de saúde. Hoje, apesar de 3 mortes temos uma letalidade baixa, usando a estimativa de casos que o estudo da UFPEL mostra. Isso porque ainda temos serviços de saúde disponíveis, então não podemos abusar disso, e afrouxar mais o isolamento. Na verdade é provável que, seguindo este crescimento de casos graves, tenhamos de retornar com medidas mais restritivas.

Texto: Rafael Balbueno
Foto: Ariéli Ziegler/Prefeitura Municipal de Santa Maria e Arquivo Sedufsm
Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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