Conscientização e ampliação do acesso a diagnósticos são desafios do Outubro Rosa
Publicada em
14/10/21
Atualizada em
14/10/21 18h53m
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Santa Maria registrou 11 óbitos em decorrência do câncer de mama apenas no primeiro quadrimestre de 2021
Santa Maria registrou, apenas no primeiro quadrimestre de 2021, 11 óbitos em decorrência do câncer de mama. A informação foi concedida à Assessoria de Imprensa da Sedufsm por Bruna Dedavid da Rocha, servidora pública, enfermeira obstetra e responsável pela Política de Saúde da Mulher na Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria. “Isso nos preocupa muito e pode até ser um reflexo da pandemia mas também é papel do setor de saúde conscientizar essas mulheres da importância dos exames e de procurar os serviços diante de sinais e sintomas suspeitos”, comenta a profissional.
O mês de outubro, também conhecido como “Outubro Rosa”, destina-se a promover ações de conscientização sobre o câncer de mama, colocando na rua informações a respeito da forma mais eficaz de prevenção: o autocuidado, a auto-observação e o acompanhamento médico periódico.
Segundo notícia publicada no site do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 2,3 milhões de mulheres no mundo descobriram, em 2020, que haviam desenvolvido o câncer de mama. Entre as brasileiras, esse tumor é responsável por cerca de 24,5% dos registros de câncer.
Bruna pondera que as atividades promovidas no mês de outubro assumem importância fundamental para que as mulheres entendam a necessidade de realizarem exames preventivos tanto do câncer de mama quanto do câncer de colo uterino.
“Também é um momento para que elas se voltem para si mesmas, no sentido de reservar pelo menos uma vez ao ano para cuidar da sua saúde. Sabemos que a rotina atribulada, principalmente das mulheres, dificulta que elas procurem os serviços de saúde para fazer seus exames. É um mês que geralmente as unidades básicas realizam turnos alternativos ou estendidos para que as mulheres possam ter acesso. É uma maneira de ampliar esse acesso para horários que elas possam comparecer nos serviços de saúde”, comenta.
De fato, a celeridade do cotidiano, a sobrecarga de trabalho, as duplas e triplas jornadas e o adoecimento psíquico podem ser elementos potencializadores para o desenvolvimento do câncer. Isso porque, em 2020, 13,1% (cerca de oito mil casos) do total de novos registros da doença tiveram relação com fatores comportamentais: inatividade física (4,6%), não aleitamento materno (4,4%), excesso de peso (2,5%) e consumo de bebidas alcoólicas (1,8%).
Desigualdade
Além do tempo escasso para cuidarem de si mesmas, a desinformação e o acesso desigual aos locais de realização de exames também explicam o porquê de as condições sociais influenciarem diretamente na maior ou menor mortandade associada à doença.
“Alguns estudos já têm identificado que a condição social impacta muito no diagnóstico precoce da doença. Mulheres pobres e sem educação formal estão mais sujeitas a descobrir a doença em estágio avançado, o que reduz drasticamente a chance de tratamento e cura. Isso ocorre em função do acesso aos exames e aos locais de realização”, explica a enfermeira obstetra.
Pandemia
Após um período em que muitos exames de rotina foram suspensos ou drasticamente reduzidos em função dos altos números de contágios e mortes por Covid-19, o momento, agora, é de busca ativa às mulheres, chamando-as para que retornem aos serviços de saúde a fim de realizarem seus exames preventivos.
“Foram realizados somente exames de urgência, principalmente em mulheres de risco ou que já tinham sinais e sintomas clínicos da doença. Mas em 2021 o quantitativo de exames normalizou. Acredito que o outubro rosa seja um momento importante para essa retomada”, avalia Bruna.
Outro problema agravado pela pandemia foi a violência doméstica, que também pode obstaculizar a procura das mulheres por assistência. Bruna questiona se algumas mulheres não são impedidas por seus agressores de fazerem exames, pois aquele seria um momento em que elas poderiam pedir por socorro aos profissionais de saúde – que também teriam condições de identificar marcas físicas de violência.
“Acredito ser muito importante também falarmos sobre violência, afinal, assim como o câncer, também causa danos na integridade mental e física da mulher e até mesmo óbito. As estatísticas demonstram o quanto a violência contra a mulher tem aumentado em nosso país e em Santa Maria não é diferente. Na pandemia ocorreu um aumento de casos de violência, já que as mulheres ficaram em isolamento com seus agressores, o que pode também ter dificultado a procura dos serviços para denúncias. Com certeza isso deve ser abordado nas consultas médicas e de enfermagem, no momento da realização dos exames”, opina.
Desafios
Conscientizar as mulheres acerca da importância de realizarem os exames preventivos e de buscarem os serviços de saúde ao menor indício de algum sintoma suspeito; ampliar o acesso aos diagnósticos e estimular o autoconhecimento corporal. Esses são alguns dos desafios do Outubro Rosa citados por Bruna, que pondera, também, sobre a problemática de mulheres que realizam os exames mas não retornam nas consultas para que os laudos sejam avaliados.
“Outra questão que é problemática em Santa Maria: entrar em contato com as mulheres para informar sobre o agendamento do exame. Porém, nesse sentido, estamos pensando em estratégias para que elas saiam das consultas do SUS já com o exame agendado, o que facilita a adesão e reduz a dificuldade do contato com a paciente por telefone”, conclui a integrante da Secretaria Municipal de Saúde.
Programações
Na próxima segunda-feira, 18 de outubro, o campus de Santa Maria da Ulbra promove o Dia D da Prevenção contra o Câncer de Mama, com uma série de atividades gratuitas que podem ser acessadas mediante agendamento prévio no telefone (55) 3214-2333 – Ramal 236. Dentre as atividades estão orientações para o autoexame (lembrando que este não substitui a mamografia ou o ultrassom mamário); orientações para o autocuidado e oficina de saúde mental e imagem do corpo.
Texto: Bruna Homrich, com colaboração de Fritz Nunes
Imagem: Getty Images via BBC
Assessoria de Imprensa da Sedufsm