Pesquisador descarta pânico em relação à varíola do macaco
Publicada em
03/06/22
Atualizada em
30/10/24 15h18m
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Professor da UFSM afirma que doença não é muito transmissível e nem muito grave

Nem bem conseguimos nos livrar da pandemia de Covid-19 e no mês de maio surgiram notícias preocupantes sobre casos da “varíola do macaco” em humanos, na Europa, e mais recentemente, com a suspeita de caso no Brasil. Até que ponto essa enfermidade deve preocupar autoridades de saúde e a população? Para o professor Eduardo Furtado Flores, virologista lotado no departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UFSM e que foi ouvido pela assessoria de imprensa da Sedufsm, não há motivo para “pânico”.
Segundo ele, esse tipo de varíola (que é transmitida do animal para o ser humano), é uma “doença que não é muito transmissível e nem muito grave” porque depende desse contato com os animais, diferente do coronavírus, que tem transmissão pelo contato entre humanos, através do sistema respiratório. Questionado sobre a possibilidade de que tenham de ser fabricadas vacinas para imunizar a população, o pesquisador ressalta que, ainda não haveria essa necessidade, pois as vacinas contra a varíola convencional dariam uma cobertura.
Eduardo Flores (foto abaixo) concorda que, após o caso da Covid-19, há uma preocupação grande, e positiva, de que possam surgir novas epidemias. “É bom que estejamos alertas para qualquer doença que surja, mas, felizmente (ou menos mal), que essa é uma doença que certamente não terá grande impacto. Não é uma doença altamente transmissível, pois sabe-se como isolar os pacientes”, enfatiza o docente. E complementa: “Reforço que não há motivo algum para pânico. É uma doença que logo deve ser resolvida. Pode aumentar o número de casos aqui e ali, mas não tende a se tornar um problema de saúde global”.
Acompanhe a íntegra da entrevista a seguir.
Sedufsm- Embora existam setores da saúde afirmando ser pouco provável a varíola dos macacos tornar-se uma pandemia, uma matéria publicada pelo Instituto Butantan, em 24 de maio, alerta para a possibilidade de a doença vir a se tornar um problema de saúde mundial. O que sabemos até então, de fato, sobre a doença? E, na sua avaliação, quais as possibilidades concretas de ela se tornar um problema significativo?
Eduardo Flores- Muito, muito pouco provável que se torne um problema de saúde pública mundial pela seguinte razão: é uma doença que se conhece há 50, 70 anos na África Central. Sempre acontecem alguns casos ali e ali. Um pipocar de meia dúzia de casos, 20 ou 30. E nunca se alastrou. É uma doença que não é muito transmissível e nem muito grave. Embora já tenha ocorrido um ou outro óbito, mas não é grave e nem altamente transmissível. Então, a possibilidade de se tornar um problema de saúde pública é muito pequena, porque é uma doença que se conhece há muito tempo e estava restrita à África. O que está acontecendo agora é que ela escapou da África e entrou na Europa. Mas não há maiores riscos, porque já se conhece a doença. Ela já existe há muitos anos e nunca deu um problema grande.
Sedufsm- A falta de vacina pode vir a agravar um quadro de transmissão desenfreada?
Eduardo Flores- Se pensa que as vacinas para varíola talvez confiram proteção parcial contra essa doença, mas paramos de vacinar há uns 40 anos. Mas eventualmente, se houver um problema maior, talvez se recorra às vacinas para varíola. Mas, nesse momento, não é nada mais alarmante.
Sedufsm- Quais medidas de prevenção são recomendadas para se proteger da doença?
Eduardo Flores- O que aconteceu é que houve uma introdução do vírus por meio de pessoas infectadas em aglomerações de pessoas nas Ilhas Canárias. E aí houve uma festa rave, com milhares de pessoas reunidas. Aparentemente, o grande motor dessa transmissão foi por meio de pessoas que vieram da África e transmitiram por contato próximo. Não é doença por transmissão sexual, e sim por contato próximo.
Então, aparentemente, não é motivo de grande preocupação e as vacinas contra a varíola confeririam proteção parcial. Em último caso, havendo grande demanda, talvez o pessoal recorra a usar alguma vacina dessas. Mas, nesse momento, não há motivo algum de alarme.
Depois da pandemia, que podia ter sido estancada lá no início na China, o pessoal está alerta para todas as doenças que surgem, porque pode ser uma nova Covid. É bom que estejamos alertas para qualquer doença que surja, mas, felizmente (ou menos mal), que essa é uma doença que certamente não terá grande impacto. Não é uma doença altamente transmissível, pois sabe-se como isolar os pacientes. Por isso, logo esse surto vai ser contido. Tenho bastante esperança nisso.
Sedufsm- Na sua avaliação, a pandemia de Covid-19 tornou as pessoas e os órgãos de saúde mais vigilantes com relação ao surgimento de novas doenças e ao cuidado sanitário que elas demandam?
Eduardo Flores- Com relação a medidas de prevenção: toda e qualquer pessoa oriunda da região de Portugal, Espanha e (se não me engano) cidades alemãs e que apresente qualquer lesão de pele deve procurar auxílio médico e se manter isolada de outras pessoas. O vírus é transmitido por contato direto e indireto com essas lesões de pele. Então, é uma doença que chama muito a atenção. Os cuidados são: evitar contato com as pessoas que venham apresentando esses problemas de pele e, quem os apresente, e tenha vindo de países que registram essa doença, devem ficar isolados e procurar assistência médica o mais rápido possível.
Reforço que não há motivo algum para pânico. É uma doença que logo deve ser resolvida. Pode aumentar o número de casos aqui e ali, mas não tende a se tornar um problema de saúde global. Espero que em dois ou três meses não tenham mais casos e ela volte a ser uma doença típica a apenas de alguns países da África.
Texto: Bruna Homrich e Fritz R. Nunes
Imagens: EBC e arquivo pessoal
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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