Antártica é tão importante para o planeta quanto a Amazônia, diz pesquisador SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 01/06/23 19h22m
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Jefferson Cardia Simões concedeu entrevista ao ‘Ponto de Pauta’ e abordou também o negacionismo científico

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A Antártica ou Antártida é o continente mais próximo do Brasil, possuindo uma extensão de 14 milhões de quilômetros quadrados e sendo banhada por um oceano de quase 31 milhões de quilômetros quadrados. Essa região é identificada pelos cientistas como uma das controladoras do sistema clima do planeta Terra. A definição é de Jefferson Cardia Simões, professor titular de Glaciologia e Geologia Polar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Atual vice-pró-reitor de Pesquisa da instituição, ele ainda é vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica. Simões já esteve em um total de 26 expedições científicas ao continente antártico. Aproveitando a passagem dele para palestra na UFSM, a assessoria de imprensa da Sedufsm o entrevistou para o programa ‘Ponto de Pauta.

Em um dos pontos de seu depoimento, o docente ressalta que há uma visão equivocada como se a questão ambiental fosse mais importante nos trópicos. “Não, em ciência, sabemos que as regiões polares são tão importantes quanto as demais”, frisa o glaciologista. Em resumo, diz Jefferson Simões, do ponto de vista ambiental, a Antártica é tão importante quanto a Amazônia na questão das mudanças do clima.

A construção do negacionismo

Uma das outras questões abordadas por Jefferson Simões se referiu ao negacionismo científico quando se trata de falar de “mudanças climáticas”. Como explicar que essas mudanças realmente afetam a população, e mais, como convencer quem é leigo no assunto.

O pesquisador comenta que é preciso ter claro que o negacionismo científico, nesse caso específico, parece, mas não é algo novo. Segundo ele, existe uma campanha de desinformação desde as primeiras publicações do primeiro relatório do Painel Intergovernamental da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças no clima, em 1988.

Conforme Simões, “grupos econômicos, inclusive, alguns governos norte-americanos que não estavam interessados nesse debate”, fizeram questão de gerar desinformação, cujo objetivo era postergar ao máximo essa discussão, pois acreditavam que medidas sobre esse tema poderiam prejudicar a economia, explica ele.

E como iniciou a construção desse processo negacionista? Segundo o professor da UFRGS, a construção passou por uma série de empresas muito conservadoras dos Estados, do Reino Unido, que contrataram as mesmas agências de publicidade que fizeram a campanha que visava negar os males do tabagismo através de comerciais, em meados dos anos 60 e 70. A ideia da indústria do tabaco era exatamente postergar ao máximo a admissão de que fumar causava doenças, e, com isso, ganhar tempo e maximizar lucros.

No caso das mudanças climáticas, argumenta Simões, usou-se a mesma tática, ou seja, “você desinforma, você cria falsos experts no assunto, usa-se o que em inglês chama-se de cherry-pick (supressão de evidências ou evidências incompletas), que consiste em pinçar determinado aspecto para tentar desmanchar o todo.

Fundamentalismo, conspirações e a tentativa de retomada da Ciência

O vice-presidente do Comitê de Pesquisa sobre a Antártica ressalta, porém, que o negacionismo não envolve apenas temores econômicos. Segundo ele, estão relacionados aí, também, percepções, valores, inclusive religiosos.

Na visão de Simões, “os fundamentalistas de qualquer religião não conseguem interpretar os chamados livros sagrados como parábolas e querem fazer a interpretação literal”. Para eles, diz o glaciologista, fica difícil entender que, sim, a humanidade pode, através de modificações na química e na física, da superfície do planeta, transformar o ambiente a ponto de tornar o planeta insustentável ou inviável para uma série de espécies que ali habitam.

Mas, o que houve de diferente durante os quatro anos do governo Bolsonaro? Jefferson Simões diz que a questão do negacionismo piorou, pois, órgãos do governo, ministérios, promoveram uma campanha negando todo o procedimento científico, com ideias conspiratórias de que é tudo invenção, que cientistas lucram com isso, e que falar em mudança no clima, aquecimento global, destruição da Amazônia, tinha como pano de fundo uma conspiração que  ameaçava à soberania nacional, quando, na realidade, preservar florestas, oceanos, Antártica, é importante para todos as nacionalidades.

Nesse contexto em que as fake News se tornam cada vez mais presentes, o que a comunidade científica pode fazer? Para Jefferson Simões, um dos erros de pesquisadores/as foi achar que bastava fornecer informação. “É muito mais profundo o processo de negacionismo”, frisa ele.

Para o docente, o advento das mídias sociais ajudou a formar guetos, bolhas, em que pessoas reproduzem/replicam apenas aquilo em que elas querem acreditar. Segundo ele, essa situação é tão preocupante que, semanas atrás, a Academia Brasileira de Ciência (ABC) criou um grupo para estudar o combate à desinformação. É uma tentativa, conforme Simões, de chegar às pessoas que possuem pouca base em relação ao conhecimento científico, discorrendo assim tanto em relação às ideias velhas como às novas para um público que precisa assimilar essas ideias em contraponto ao negacionismo.

Para assistir a íntegra da entrevista ao ‘Ponto de Pauta’, clique logo abaixo.

Texto: Fritz R. Nunes
Imagem: Italo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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