Docentes indicam a leitura de ‘Casta: As origens de nosso mal-estar’
Publicada em
27/10/23
Atualizada em
27/10/23 10h00m
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Livro de Isabel Wilkerson, que discute como a sociedade contemporânea se divide, é a sugestão do professor Luiz Carlos da Rosa e da professora Vanessa Candeia

A dica cultural desta sexta-feira (27) é do professor aposentado da UFSM, Luiz Carlos da Rosa, e da professora de Tupanciretã, Vanessa Candeia, que indicam o livro ‘Casta: as origens de nosso mal-estar’, da escritora e jornalista estadunidense Isabel Wilkerson. A autora não usa o termo racismo há anos, pois entende que ele não dá conta de explicar as relações de opressão na sociedade norte-americana, assim ela trouxe a noção de castas para discutir a sociedade atual, usando exemplos da escravidão nos E.U.A., das castas indianas e do nazismo alemão. “Não lembro de ter lido algum livro que analisa, tão clara e profundamente, o conflito, partilhado e admitido, no conflito entre brancos e negros na sociedade norte-americana desde a guerra de sessessão e que perdura até hoje”, destacou o docente.
O livro ‘Casta: as origens de nosso mal-estar’ foi lançado em 2021 pela Editora Zahar. Isabel Wilkerson é escritora e jornalista norte-americana. Escreveu outras obras e foi vencedora do Prêmio Pulitzer.
Você pode encontrar o livro em e-commerces a partir de R$40,00 (impresso) e R$20,00 (kindle). Confira abaixo a dica completa do professor Luiz Carlos feita em conjunto com a professora Vanessa.
“Casta: As origens de nosso mal-estar
‘O silêncio perante o mal é, ele mesmo o mal (...) Não falar é falar. Não agir é agir. (Bonhoeffer)’
Recentemente, tivemos um agradabilíssimo encontro com o maravilhoso livro ‘Casta: as origens de nosso mal-estar’, da jornalista afrodescendente norte-americana Isabel Wilkerson. Foi surpreendente, pois tivemos o prazer de lê-lo de uma pegada só. Na contemporaneidade é impossível ler algo, no contexto histórico, sociológico e político que não utilize, para seu rigor, as premissas de gênero, classe e etnia. Com uma linguagem lírica e permeada por grandes metáforas e metonímias, Isabel nos faz perder o fôlego com a qualidade epistemológica e uma coragem ímpar para abordar, as questões das castas, nas grandes contradições e paradoxos históricos de nossas sociedades egoístas, determinada por posições econômicas, políticas, ideológicas, étnicas, de gênero e classe social.
A autora, com muita profundidade, compara os problemas das questões de castas na sociedade norte-americana, indiana e no período nazista na Alemanha. Com seriedade epistemológica, Isabel argumenta que essas questões de castas, arbitrariamente, vão configurar as posições dos agentes sociais até nosso tempo presente. Isabel torna explícito, em nossa vida cotiana, o que causa as grandes crises globais nas democracias do mundo globalizado. Nos parece claro que sua abordagem supera a leitura marxiana das meras contradições das posições de classe nas sociedades que são definidas e orientadas pelo mantra capital.
Não lembro de ter lido algum livro que analisa, tão clara e densamente, o conflito, partilhado e admitido, no conflito entre brancos e negros na sociedade norte-americana desde a guerra de secessão e que perdura até hoje. Nossa autora afirma que ‘só nos últimos tempos os geofísicos passaram a dispor de tecnologia com sensibilidade suficiente para detectar os movimentos ocultos mais profundos no centro da terra. Eles são chamados de terremotos silenciosos. E apenas recentemente as circunstâncias nos obrigaram, nessa era atual de ruptura humana, a buscar os movimentos ocultos do coração humano, a descobrir as origens de nosso mal-estar’.
Com coragem, clareza e fundada em dados históricos, Isabel explicita o extermínio de negros e indígenas na história da sociedade norte-americana e de judeus durante o terceiro reich (...) ‘a casta disfarçada de normalidade, a injustiça parecendo justa, as atrocidades parecendo inevitáveis para manter a máquina funcionando, a matriz da casta como um fac-símile da própria vida, cujo objetivo é manter o primado dos que acumulam e se aferram ao poder’.
Segundo a autora, o aparecimento de Trump, nos Estados Unidos da América, é um movimento silencioso ou não dessa tradição fascista que, infelizmente obteve a concordância de milhões de cidadãos e cidadãs americanos(as). Por nosso custo e risco, o patético surgimento do bolsonarismo, no Brasil, também tem origem na nossa repugnante sociedade, também, escravagista.
Como esse pequeno texto faz parte de uma dica cultural, não temos a pretensão de esgotar a profunda e séria análise do maravilhoso livro de Isabel Wilkerson. Tivemos a singela pretensão de apontar alguns elementos que apresentam o livro e catalisar a vontade e necessidade de ler essa obra para entender os conflitos que vão configurando a dinâmica de nossas sociedades através da História.”
Luiz Carlos Nascimento da Rosa
Professor aposentado do Centro de Educação da UFSM
Vanessa da Rosa Candeia
Professora da rede pública em Tupanciretã
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