Bruno Paes Manso analisa relação entre religião, crime e política SVG: calendario Publicada em 07/12/23
SVG: atualizacao Atualizada em 11/12/23 15h52m
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Jornalista e cientista político concedeu entrevista ao Programa Ponto de Pauta

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O jornalista, escritor e cientista político, Bruno Paes Manso, foi o entrevistado do Ponto de Pauta, edição nº 83,  que teve como tema "fé, milícia e política", título da palestra proferida por ele a convite da Sedufsm. O jornalista começou a entrevista falando sobre a relação entre religião e milícia com a política atual do Brasil. 

O escritor explica que as pessoas que são da geração dos anos 80, que acompanharam o processo de redemocratização no Brasil, acreditavam na utopia de uma sociedade mais justa, produzida pelo Estado. O jornalista conta que, em São Paulo, acompanhou de perto o trabalho dos movimentos sociais e das comunidades eclesiais de base, que deram origem ao Partido dos Trabalhadores. Segundo Bruno, a população tinha o pensamento de que o Estado promoveria justiça social.

“Com o passar dos anos, o que a gente viu foi um estado muito fragilizado, incapaz de produzir esse sonho e ao mesmo tempo um mercado cada vez mais forte, onde as pessoas para sobreviverem na cidades precisavam ter dinheiro, os evangélicos e o crime surgem nesse contexto, oferecendo soluções para que as pessoas passem a ganhar dinheiro em seus respectivos nichos”, explica o cientista político.

O impacto da religião na política atual 

Ainda debatendo sobre a  religião e a política, o autor explica qual é o tamanho da inserção e do impacto desses dois temas na política atual. De acordo com ele, hoje em dia temos um discurso neoliberal empreendedor muito forte vinculado ao discurso religioso, que virou um projeto de mundo.

“Eu acho que hoje tem um projeto político muito claro, ligado ao discurso religioso que permeia o discurso da extrema direita, não só no Brasil como em diversas partes do mundo. Muito vinculado ao empreendedorismo, a crença em si próprio, aos valores do mercado, a necessidade de sobreviver ao mercado e não esperar favores do Estado”, ressalta Bruno.

De acordo com o jornalista, na época da redemocratização, a política era pensada a partir de um projeto de futuro. A ideia era construir uma sociedade mais justa e igualitária, política servia para transformar o mundo. Hoje, a política está mais preocupada com o presente, a questão não é mais construir um futuro melhor, mas sobreviver ao presente, em uma sociedade que exige dinheiro, é preciso encontrar formas de se proteger e garantir os direitos. A política é usada para criar força e alianças entre grupos com valores semelhantes.

Crime organizado

Sobre a relação do crime organizado, as milícias e as religiões, o jornalista avalia essas questões para além de um o Estado e suas políticas públicas. Segundo ele, esse fenômeno está associado a uma grande transformação da sociedade em que estamos vivendo. A informalização da economia, com a substituição do trabalho humano pelas máquinas e a inteligência artificial, está levando as pessoas à informalidade. Isso cria um cenário em que as atividades criminais, que são proibidas formalmente, ofereçam oportunidades de emprego e trajetórias de vida.

“O crime organizado tem conseguido aproveitar essa brecha de grande informalização da economia e grande espaço ilegal, de atividades nos produtos internos brutos dos diversos países. Essa fase de transição a gente ainda não descobriu como sair dela, a gente não sabe como produzir novos empregos”, relata o escritor. 

Bruno fala sobre os momentos em que a criminalidade e religiosidade convergem em uma única pessoa. Segundo ele, o engajamento da classe média na política é uma força muito grande. Isso é uma novidade, pois muitas pessoas que aparentemente não tinham interesse na política passaram a se engajar, por exemplo, acampando dois meses na frente dos quartéis do Exército para exigir a recontagem de votos. Bruno explica que esse engajamento, que até então era algo que associávamos à esquerda, é em decorrência da religião, que impulsonou essa mudança, porque em vez de propor discursos racionais, ela passa a dialogar com crenças e afetos.

“Você está lutando em defesa do bem contra o mal, em defesa dos valores bíblicos, contra todo o valor num dano que tenta desconstruir os valores religiosos judaicos cristãos, então é uma batalha espiritual da luta do bem contra o mal e quando você tá nessa guerra a violência é justificada, você pode levar um revólver gigante na marcha para Jesus, como a gente viu acontecer, porque esse revólver vai ser usado na defesa do bem contra o mal”, salienta o jornalista.

Por fim, Bruno fala sobre o papel da esquerda ou dos setores progressistas no atual contexto político. Para ele, a esquerda ao longo do século XX teve um discurso materialista de produção marxista muito vinculada à produtividade e ao materialismo histórico e dialético, hoje o discurso é mais contundente e provocador.

“A força desse discurso vem dos indígenas, como Ailton Krenak e/ou Davi Kopenawa, que falam sobre a importância de sobreviver e de viver na terra, não para transformar a terra, mas aproveitar o que a terra nos dá. Os indígenas dizem que os ocidentais e os brancos são escravos da transcendência, eles precisam de valores pelo qual lutar, pelo qual matar, pelo qual morrer e na verdade a gente precisa aprender a viver sem seguir esses valores que a gente busca, a propósito é por causa disso a gente faz guerras e tenta dominar as outras espécies”, finaliza Bruno.


Confira a íntegra do Ponto de Pauta nº 83 no canal do Youtube da Sedufsm

 

 

Texto: Karoline Rosa (estagiária de jornalismo)
Edição: Fritz R. Nunes (jornalista)
Assessoria de Imprensa da SEDUFSM

 

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