Breno Altman defende solidariedade irrestrita ao povo palestino
Publicada em
10/04/24
Atualizada em
10/04/24 19h36m
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Jornalista lançou nesta terça, 9 de abril, na UFSM, o livro “Contra o Sionismo. Retrato de uma doutrina colonial e racista”.

O que está em jogo no atual conflito em que Israel está promovendo um verdadeiro massacre contra a população palestina é a luta de um povo colonizado contra um Estado colonial. E, diante dessa situação, as leis internacionais permitem que os/as colonizados/as, no caso palestinos/as, reajam, inclusive usando de violência, promovendo a luta armada. O entendimento é de Breno Altman, jornalista, editor do site ‘Opera Mundi’, e que esteve nesta terça, 9 de abril, na UFSM, para uma palestra e depois lançamento do livro “Contra o Sionismo. Retrato de uma doutrina colonial e racista”.
O escritor, que é de ascendência judaica, defende que a população de Gaza merece a solidariedade não apenas pela dor e o sacrifício que enfrentam com a guerra perpetrada pelo estado israelense, mas “irrestrita solidariedade” também pelo fato de que essa população é um “exemplo de luta e resistência”. A palestra e o lançamento do livro aconteceram no Auditório Flávio Miguel Schneider (CCR) e tiveram como organizadores a Sedufsm e o Comitê Palestina Livre de Santa Maria. A mesa, que foi coordenada pela diretora da Sedufsm, Neila Baldi, teve ainda a presença de Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).
Breno Altman difere da opinião da maioria dos meios de comunicação, segundo os quais, a ação do grupo insurgente Hamas, em 7 de outubro de 2023, atacando Israel, matando mais de mil pessoas, teria sido um ataque terrorista. Para o jornalista, os fatos daquela data precisariam ser averiguados de forma independente, mas, mesmo que efetivamente tenham ocorrido infrações aos direitos humanos, a ação do grupo palestino representaria uma espécie de “contra-ataque” a um processo de violência contínua promovida pelo governo de extrema-direita israelense há décadas, destaca ele.
Para o jornalista, não é preciso gostar do Hamas para entender que o que o grupo faz é simplesmente se defender da ação de um Estado opressor e racista. Altman diz que ele, particularmente, não aprecia o Hamas, por ser este um grupo fundamentalista religioso. Todavia, argumenta ele, “não podemos escolher pelo povo palestino quem faz a luta de vanguarda. E quem faz a luta de resistência ao regime sionista neste momento é o Hamas”, assinala.
Sionismo
Na visão do escritor, os judeus só vão ser verdadeiramente livres quando se desvincularem do Sionismo, entendido por ele como uma resposta política de um setor do Judaísmo ao antissemitismo que grassava na Europa e em várias partes do mundo. Ele nasce, segundo Breno Altman, por volta de 1900, como um movimento laico, mas que, com o passar do tempo, teve que fazer um pacto com os grupos religiosos judaicos.
O jornalista cita, como um dos mentores do sionismo, o jornalista judeu austro-húngaro, Theodor Herzl que, contra o racismo sofrido pelos judeus, propõe a criação de um ‘Estado de Supremacia Racial’. Em outras palavras, usar contra os racistas as mesmas ferramentas do antissemitismo.
O sionismo acaba por usar o discurso do “retorno à Canaã, a terra prometida ao povo prometido”, cujo local “escolhido” acabou sendo a região da Palestina, a partir de 1948, quando foi criado pela ONU, Israel, que passou a ser um Estado com uma população minoritária de judeus. Segundo Altman, no início do século XX, 85% da população da Palestina eram árabes e apenas 5% eram judeus.
Diante disso é que, segundo o escritor, Israel passa a agir, com sustentação de governos imperialistas da Europa e Estados Unidos, para ocupar terras palestinas e expulsar aqueles que se opunham. Na prática, uma colonização forçada, cuja sustentação era militar, formada, inicialmente, por milícias armadas. Essas milícias, diz o jornalista, agiam para impor aos palestinos medidas contra os interesses dessa própria população, o que faz lembrar da situação que ocorreu também na África do Sul, durante o apartheid.
Ao resumir, de forma rápida, o que é o sionismo, Breno Altman classifica-o como um movimento racista, colonial, além de representar uma espécie de “braço” ou “cabeça de ponte” do Imperialismo no Oriente Médio. Até a década de 1940, destaca ele, os judeus atuavam na luta anti-imperialista, com uma visão predominantemente marxista. Ele cita palavras de Karl Marx, de que o antissemitismo só acabaria após uma revolução proletária e socialista. Para Altman, “o sionismo é uma solução para a burguesia judaica, não para o povo”.
Ainda conforme o escritor, o sionismo está para os judeus na mesma medida que o nazismo está para os alemães. Dessa forma, diz ele, assim como são se pode acusar todo o povo alemão de nazista, também não se pode dizer que, quem critica o sionismo, também estaria atacando os judeus, pois nem todo judeu é sionista.
A fase dos discursos acabou
Apesar de todas as mortes e destruição que têm sido cometidas contra a região de Gaza, especialmente, Breno Altman entende que nunca a luta do povo palestino teve tanto apoio na Europa, Estados Unidos e em outras partes do mundo. Para ele, a valentia do povo da Palestina vai fazer “virar o jogo” contra o governo de ‘Bibi’ Netanyahu.
O jornalista elogiou a postura do presidente Lula, que tem confrontado o governo israelense, inclusive comparando as atrocidades feitas em Gaza com as cometidas durante o holocausto. Entretanto, para Altman, a fase dos discursos passou, e seria preciso a tomada de atitudes mais contundentes, como o rompimento de convênios comerciais, militares, entre outras medidas.
Autógrafos
Após a palestra e debate com Breno Altman, que praticamente lotou o auditório Flávio Miguel Schneider, tendo a participação de representações sindicais, político-partidárias e da comunidade palestina, ocorreu a sessão de autógrafos. Uma fila extensa, com dezenas de pessoas, se formou para obter o autógrafo do autor de “Contra o sionismo. Retrato de uma doutrina colonial e racista”.
Texto e fotos: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm