Professor destaca conteúdo político da saga “Planeta dos macacos”
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Atualizada em
07/06/24 11h04m
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Amarildo Trevisan reflete sobre aspectos que lembram o momento de extremismos da sociedade atual
Nesta sexta, 7 de junho, a dica cultural é do professor aposentado do Centro de Educação da UFSM, Amarildo Luiz Trevisan. Ao assistir o novo filme “Planeta dos macacos- o reinado”, ele estabelece relações com outro filme da saga, que é de 1970, ‘De volta ao planeta dos macacos’. No conteúdo das obras, para além da ficção e do entretenimento, Trevisan consegue vislumbrar fragmentos de um mundo em que a polarização política encontra-se cada vez mais presente. Acompanhe o texto abaixo.
“O poder que nos divide
Ao assistir o recente lançamento do derradeiro filme da franquia ‘Planeta dos Macacos - O Reinado’ -, minha mente resgatou um episódio marcante do segundo filme, De Volta ao Planeta dos Macacos, dirigido por Ted Post e lançado em 1970. Nessa trama, ambientada em 3955 D.C., somos apresentados a uma civilização alienígena que se comunica telepaticamente e venera uma bomba atômica capaz de aniquilar a Terra por completo. Os habitantes desse estranho mundo, uma raça de mutantes, capturam dois astronautas e a companheira Nova, confinando-os em suas celas.
Essa civilização alienígena, dotada de poderes mentais extraordinários, manipula o pensamento para provocar a discórdia. Quando Brent, o segundo astronauta, é encarcerado junto com Taylor, o primeiro, surge a acusação de que eles promovem a guerra, apesar de tentarem pregar a paz em seu culto. O carcereiro, ao ser confrontado, alega que não incitam diretamente a violência, mas sim influenciam mentalmente para que os irmãos se voltem uns contra os outros. Num instante, Taylor e Brent se veem envolvidos numa luta fratricida na cela, desferindo golpes mortais um no outro. E assim, os estranhos induzem à ira e à guerra, mesmo sem sujar as próprias mãos.
Essa narrativa cinematográfica ressoa fortemente com as batalhas travadas nas redes sociais, não só no Brasil, mas em todo o mundo contemporâneo. Desde a ascensão de figuras como Steve Bannon, o criador do Breitbart News, conhecido por disseminar opiniões duvidosas envoltas em manchetes sensacionalistas para promover visões extremistas do mundo. Sua agenda radical propaga uma visão marcada pelo racismo e anti-imigração. E essa influência reverberou, inspirando líderes de extrema-direita como Milei, Bolsonaro e outros, em diferentes partes do globo.
A polarização, que antes era contida dentro dos limites do razoável, contaminou-se com a política do ódio, ameaçando a estabilidade democrática em muitos países. O exemplo histórico do Brasil em 1964, quando houve uma intervenção direta dos países do Norte na política do Sul global, ainda ecoa. Mas agora, com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, não é mais necessário esse tipo de interferência direta. Basta induzir pelo pensamento, semeando a discórdia entre irmãos, muitas vezes sem nem mesmo compreender plenamente o motivo.
Assim, a mensagem ressoa: o poder de dividir e incitar conflitos pode se manifestar de formas mais sutis e perigosas, deixando-nos vulneráveis à manipulação mental e à fragmentação social. É um lembrete contundente de que, mesmo na era da informação instantânea, a vigilância contra a exploração dos nossos medos e divisões é essencial para a preservação da democracia e da coexistência pacífica.”
Amarildo Luiz Trevisan
Professor aposentado do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM
Informações sobre os filmes
Planeta dos macacos- o reinado
Ano: 2024
Direção: Wes Ball
Duração: 145 min
Ainda em cartaz em Santa Maria, tanto na rede Arcoplex como na rede Cinépolis.
De volta ao planeta dos macacos
Ano: 1970
Direção: Ted Post
Duração: 95 min
Pode ser visto em plataformas como Star Plus e no NOW da rede Telecine.
Edição: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm