UFSM não tem política de gestão de desastres SVG: calendario Publicada em 30/04/25
SVG: atualizacao Atualizada em 01/05/25 15h20m
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Série de situações de crise, no último ano, não foi suficiente para consolidar ações de como agir nesses momentos

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Colégio Politécnico da UFSM (foto: Italo de Paula)

No próximo domingo, 4 de maio, completa-se um mês do acidente com o ônibus da UFSM que levava docentes e estudantes do curso de Paisagismo do Colégio Politécnico para uma visita acadêmica ao Cactário Horst, em Imigrante (RS). Uma falha mecânica nos freios, ainda sob investigação, causou o acidente que levou a sete óbitos, além de ferimentos em dezenas de ocupantes do ônibus.

A tragédia, que teve repercussão nacional e causou comoção na comunidade universitária, não é a primeira crise. Desde o ano passado, a instituição enfrentou graves problemas como os efeitos das fortes chuvas e alagamentos no campus, os problemas com o rotavírus na água consumida por estudantes, o acidente com um elevador no campus, que deixou cinco pessoas feridas em abril, e o assassinato de dois professores em um assalto no município de Mato Castelhano (RS). A esses eventos recentes, de grande impacto à comunidade universitária, ainda poderíamos somar um outro, mais antigo, que foi a tragédia da Boate Kiss, em janeiro de 2013, que vitimou dezenas de estudantes da UFSM.

Em que pese todas essas situações graves enfrentadas, a estrutura de uma política para lidar com esses momentos ainda não está solidificada, conforme admite a própria gestão da universidade. Quando questionada sobre como são estruturadas essas ações em períodos de crise, a assessoria de Comunicação da Reitoria respondeu:

“A gestão das crises na UFSM é realizada via Gabinete do Reitor. Não existe na estrutura propriamente dita uma equipe que possa ser acionada para todos os casos, como há a defesa civil na prefeitura. Por exemplo, durante as questões do rotavírus chamamos TAES, docentes e setores com conhecimento de causa - laboratórios da Farmácia, direção do CCS, PROINFRA. Dessa forma, agem como interlocutores entre o ‘problema’ e orientam a gestão da UFSM quanto aos passos necessários”.

No caso do acidente com o ônibus do Politécnico, as medidas foram semelhantes ao citado acima. Conforme a assessoria de Comunicação do Gabinete do Reitor, inicialmente foi montada uma equipe de voluntários, envolvendo professores/as do Politécnico, técnico-administrativos e integrantes da Reitoria. Após 15 dias, ficou decidido, de forma conjunta, por incluírem quatro bolsistas da pós-graduação (Enfermagem, Serviço Social e Psicologia) para fazer o atendimento e orientação quanto às demandas específicas com os acidentados.

Ainda segundo a gestão, há uma outra equipe, mais administrativa, composta apenas por servidores/as da UFSM para orientar e alinhar o acionamento do seguro estudante. Essa equipe de bolsistas faz a ponte entre as pessoas e os serviços necessários como Acolhe Santa Maria, atendimentos da CAED (*), HUSM, odontologia e outras demandas.

Insatisfações

Enquanto a gestão universitária agia com o intuito de buscar responder a uma situação de gravidade, que envolvia vítimas e seus familiares, em paralelo, os/as atingidos/as pelo desastre também se movimentavam. Um grupo de whatsapp de estudantes foi organizado para a troca de ideias. A assessoria de imprensa da Sedufsm teve acesso a algumas das mensagens, trocadas especialmente nos primeiros dias após o acidente. O clima de insatisfação era muito grande, especialmente no que se refere a uma suposta “falta de prioridade” no atendimento no Hospital Universitário, com esperas angustiantes de pacientes feridos. O Husm faz parte da estrutura da UFSM, mas é gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

No dia 11 de abril chegou a ocorrer um protesto cobrando mais atenção da UFSM às vítimas e parte do grupo foi recebida pelo reitor, professor Luciano Schuch. Do grupo de whatsapp a que tivemos acesso, algumas das pessoas que lá se manifestaram preferiram não expor diretamente a opinião para a reportagem. Entretanto, a docente do Curso de Paisagismo, Denise Estivalete, sobrevivente do acidente, mas que ainda se encontra com marcas físicas e psicológicas, aceitou fazer alguns comentários sobre a situação que enfrentou.

Denise afirma que é complicado agir “quando não se tem um protocolo a seguir”. Na visão dela, tudo foi feito “na base da insistência”. E complementa: “Achei tudo muito demorado. Nós, que fomos vítimas, temos dor e a dor não pode ser deixada para depois. É para ontem”, enfatiza.

A professora conta também que, enquanto estava no hospital de Lajeado, a situação estava sob controle. Contudo, segundo ela, na estrada, sendo transferida para Santa Maria, a situação se tornou muito precária. “Foi muito tenso. Fui transportada em uma ambulância fornecida pela UFSM que não tinha estrutura adequada. Apenas o motorista e uma profissional, bastante dedicada, mas que não tinha apoio de um médico. A ambulância sacolejava o tempo inteiro, me causando muitas dores e risco de novas lesões”.  Ao chegar na cidade, Denise explica que foi encaminhada para um hospital particular, já que possui convênio de saúde.

Atendida por uma instituição privada, onde refizeram a maioria dos exames em função da viagem complicada de ambulância, Denise lamenta que estudantes que dependeram do Husm tenham que ter protestado para obter um atendimento mais imediato. A docente também elogia a comunidade do Colégio Politécnico, que segundo ela, diante do ineditismo, empreendeu o máximo de esforços para encaminhar as demandas, mas que nem todas competiam à escola.

Prioridades

A assessoria de imprensa da Sedufsm fez contato com a direção do Hospital Universitário entre segunda e quarta (28 e 30 de abril), para saber como esse atendimento às vítimas ocorreu e qual a avaliação sobre algumas das reclamações, bem como buscar saber o número de pessoas atendidas. Até o fechamento desta matéria não havíamos obtido respostas, mas, quando chegarem, serão acrescentadas ao texto.

Já o reitor da UFSM, professor Luciano Schuch, questionado, apresentou sua análise sobre as insatisfações.

“Todos os estudantes estão sendo atendidos por nós. O encaminhamento é feito pelo Politécnico, no caso das demandas mais pontuais. E quando há necessidade hospitalar, o referencial é o Hospital Universitário.” Lá, no entanto, explica ele, a prioridade se dá a partir dos protocolos que norteiam o sistema de saúde quanto à definição de gravidade de cada caso.

O que melhorar para o futuro

A reportagem buscou ouvir algumas pessoas da UFSM que já têm atuado em momentos críticos na instituição, para tentar vislumbrar cenários possíveis na construção de uma estrutura de gerenciamento de crises e/ou desastres.

Maria Denise Schimith, professora do departamento de Enfermagem, também diretora do Centro de Ciências da Saúde, destaca que o CCS tem atuado em momentos de crise pelo menos desde o desastre da Boate Kiss. Na época, lembra ela, a professora Teresinha Heck Weiller liderou um serviço de atenção aos(às) sobreviventes e, com auxílio de outras docentes, colaboraram para que o Husm estruturasse o CIAVA (Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes).

A docente recorda também o período da pandemia, quando o Centro coordenou a vacinação na UFSM, auxiliou a montar o disque Covid e também auxiliou o Hospital em um serviço montado para atender a grande demanda.  Ano passado, durante a enchente, cita Maria Denise, o CCS iniciou a experiência de trabalhar com comitê de crise. Segundo ela, a professora Liane Righi, que faz parte da Força Nacional SUS, orientou na organização das ações.

“Agora, no acidente do Politécnico, o protagonismo foi dos/as colegas de lá, mas estivemos atuando conjuntamente, com auxílio de colegas experientes na organização de atendimentos dessa magnitude. Usamos os protocolos da Força Nacional do SUS, mas a UFSM pode ter seus próprios protocolos”, frisa Maria Denise.

Sheila Kocourek, professora do departamento de Serviço Social da UFSM, diretora do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), analisa como elemento importante para ações em períodos de crise, o fortalecimento de algumas estruturas já existentes na universidade, incluindo órgãos que funcionam nos próprios Centros. É o caso das Unidades de Apoio Pedagógico, que atendem a estudantes, e também a Coordenadoria de Qualidade de Vida do Servidor (CQVS), que atua com docentes e servidores/as.

O fortalecimento de estruturas como essas, argumenta Sheila, poderia possibilitar não só o atendimento de situações emergenciais, críticas, mas permitir que houvesse um acompanhamento mais constante desses processos, desde o seu início, até a sua finalização, criando estruturas internas que se comunicassem de forma permanente.

No que se refere à Reitoria da UFSM, a informação da assessoria de Comunicação do Gabinete é que há o desejo de que seja construída uma estrutura com a finalidade de ser demandada nos momentos de crise. A professora do Colégio Politécnico, Nadianna Marques, da área do Serviço Social, e que pesquisa, entre outros temas, gestão de riscos em desastres e também saúde mental e desastres, é citada como uma fonte importante para ajudar na construção de uma proposta para que a “universidade tenha em sua estrutura, um comitê que possa ser acionado em momento de crise e que tenha em sua lógica essa característica multidisciplinar”.

Acolhimento no Poli

Nesta quarta, 30 de abril, encerra, no Colégio Politécnico da UFSM, o acolhimento a estudantes e familiares impactados pelo acidente ocorrido em 4 de abril, durante viagem de estudos do curso Técnico em Paisagismo à cidade de Imigrante (RS). O atendimento vinha ocorrendo na sala 115 do Bloco A do colégio, nos dois turnos.

Todavia, explica o vice-diretor do Politécnico, professor Moacir Bolzan, o acolhimento, agora, passa a ser centralizado na Coordenadoria de Ações Acadêmicas (CAED) da Pró-Reitoria de Graduação, mas com o apoio da escola, o que seguirá ocorrendo por tempo indeterminado.

Sobre as aulas do curso de Paisagismo, Bolzan explica que houve uma reunião ampliada e que o consenso foi de fazer um retorno a partir de segunda, 12 de maio, com alunos/as do terceiro semestre.

Para mais informações, mensagens devem ser encaminhadas para o e-mail acolhimento.poli@ufsm.br ou pelo Formulário de levantamento das demandas dos sobreviventes.

(*) CAED- Coordenadoria de Ações Educacionais, vinculada à Pró-Reitoria de Graduação.

 

Reportagem: Fritz R. Nunes e Paola Matos (estagiária de jornalismo)
Fotos: Italo de Paula
Edição: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm

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