O racismo permeia tudo, basta ter olhos para vê-lo, diz Jessé Souza SVG: calendario Publicada em 01/09/25
SVG: atualizacao Atualizada em 02/09/25 10h11m
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Sedufsm trouxe sociólogo a Santa Maria para um bate-papo durante a 52ª Feira do Livro

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Um pouco antes de Jessé Souza subir ao palco do Theatro Treze de Maio na noite do último sábado, 30 de agosto, em Santa Maria, um grupo de pessoas protestava em frente ao local para denunciar o genocídio perpetrado pelo estado de Israel contra o povo palestino. E foi falando justamente sobre essa temática que o sociólogo e professor aposentado da UFABC iniciou sua conversa com o público, em um evento realizado pela Sedufsm dentro da programação da 52ª Feira do Livro.

Ao responder sobre o massacre em Gaza, Jessé o relaciona com um tema que transpassa toda sua obra: o racismo, identificando-o como a força social e política mais poderosa, em termos planetários. Para o sociólogo, as e os palestinos vêm sendo vítimas, sim, de racismo, de forma que o genocídio em Gaza representa um aviso para todo o sul global. Um aviso que diz: “viu o que acontece quando não nos obedecem?”.

A "balela" da corrupção - “Todas as teorias sociais dominantes partem do pressuposto de que sociedades africanas e latino-americanas são corruptas. Quando a corrupção ocorre no centro, é considerada um mero desvio. A corrupção se relaciona com a moralidade, que é o principal aspecto do ser humano, como dizia Kant. A moralidade é o que nos separa dos animais”, disse Jessé.

Sob o argumento falacioso da corrupção, tenta-se justificar os mais hediondos ataques. Contudo, diz Jessé, a classe média brasileira, que brada aos quatro ventos contra a corrupção, nunca foi verdadeiramente contra a prática. Também não o é a elite brasileira, que utiliza o Estado para fazer seus saques. O próprio Estados Unidos, “bastião da moralidade” e almejado pela elite brasileira – que se imagina americana -, é responsável por dominações e saques mundo afora.

Neila Baldi, diretora da Sedufsm que fez a mediação do bate-papo junto ao presidente da seção sindical, Everton Picolotto, questionou o que podemos fazer neste momento de agudização da guerra norte-americana contra o Brasil, a partir de taxações e sanções econômicas.

Para Jessé, o interesse dos EUA no Brasil se explica por nosso grande dinamismo, pois, com alguns incentivos, já conseguimos melhora em índices e em nosso desempenho global. Contudo, a elite brasileira, adjetivada pelo sociólogo como o “capitão do mato” da elite dos EUA, não quer que o país prospere e, para isso, tem como aliada uma imprensa “venal e canalha”, de sua propriedade, que produz uma informação envenenada para o povo. 

Provando seu argumento de que a opressão racial está na base de tudo o que acontece em nosso país, bastando que tenhamos olhos para vê-la, Jessé explica que a própria classe média é um produto do período escravocrata, quando, entre as classes de senhores proprietários de escravos e a de escravos propriamente dita, existiam os homens brancos livres, que não tinham terra nem escravos. Tais homens viravam, muitas vezes, o braço armado dos senhores de escravos. “Tem algo que defina mais a nossa classe média do que isso?”, questiona o sociólogo.

Tanto elite quanto classe média brasileiras se contrapõem veementemente a qualquer política que vise dirimir as desigualdades sociais do Brasil, ampliando condições de acesso a serviços públicos de qualidade ou promovendo uma melhor distribuição da renda, por exemplo. A elite, como detentora do poder econômico, não aceita a mobilidade social, ao passo que a classe média, que detém o monopólio do capital cultural, não quer pobres e negros em condições justas de competição.

A falta de uma visão alternativa – Se chegamos até aqui, também temos nossa parcela de culpa. Esse é o diagnóstico de Jessé, para quem o campo progressista de forma geral, e a esquerda de forma específica, ainda não conseguiu tecer canais de comunicação efetivos com a população para fazer circular uma visão alternativa acerca da realidade. Pois, para Jessé, na origem de toda a dinâmica social estão as ideias, então é preciso, antes de mais nada, ‘desenvenenar’ o povo das concepções disseminadas pela elite. “Só há mudança quando há ideias que explicam para o povo que caminho tomar”, argumenta.

Ele é um dos idealizadores do Portal de Jornalismo Independente “ICL Notícias”, uma iniciativa que busca fazer um contraponto à visão hegemônica, racista e homogeneizante trazida pela grande mídia.

​​​​Até o final dessa semana, a íntegra do bate-papo com Jessé Souza estará disponível para visualização no canal de Youtube da Sedufsm. 

Essa foi a primeira vez que a Sedufsm se inseriu na programação da Feira do Livro de Santa Maria, em um evento que esgotou ingressos e propiciou uma noite de reflexão e apontamentos. Neila Baldi, diretora da Sedufsm, disse que o nome de Jessé Souza foi escolhido pela gestão "Renova" por se tratar de um intelectual fundamental para o debate de ideias sobre a atualidade brasileira. 

 

Texto: Bruna Homrich

Fotos: Italo de Paula

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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