Lô Borges e o legado do Clube da Esquina
Publicada em
28/11/25
Atualizada em
28/11/25 10h32m
36 Visualizações
Docente ressalta a influência dos músicos mineiros em Santa Maria
Nesta sexta, 28 de novembro, o professor do departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM, Renato Souza, destaca a importância dos mineiros do Clube da Esquina, com a influência artística chegando até Santa Maria. Além de elencar as tantas qualidades da trupe, o docente ainda destaca alguns dos lampejos de genialidade de Lô Borges, que nos deixou recentemente. Confira a dica cultural abaixo.
“Não é sobre mim, mas vou começar por mim, e por uma razão que vocês vão entender.
Eu tive a oportunidade de participar de um coletivo de música de Santa Maria entre 2016 e 2020 e poucos, o EntreAutores. A sede do grupo era a Esquina 249, uma certa esquina da Serafim Valandro, no Bairro do Rosário. Ali apresentávamos nossas composições uns para os outros, tocávamos e cantávamos juntos, compúnhamos coletivamente, e fazíamos eventos para mostrar a nossa cara: os “Sararaus na Esquina”, o “Para Cantar o que é Nosso” no teatro 13, o álbum “Coletânea EntreAutores”, entre outros.
Eu, que sempre fui acostumado a fazer música sozinho com meu violão, pude conhecer ali, convivendo com tantos amigos e colegas semanalmente, cada qual com suas referências, suas temáticas, seus talentos, sua identidade e seu estilo, a força da produção coletiva, da escuta interessada, da sinergia artística, do círculo virtuoso da música quando ela é amada e compartilhada coletivamente.
A Esquina 249, embora ninguém verbalizasse, não escondia sua referência ao grande Clube da Esquina, cujo espírito eu acho que inconscientemente (ou talvez nem tanto) tentávamos, de forma modesta e reverente, emular naquele lugar.

É bem verdade que o ‘EntreAutores’ se dissipou bem antes do que gostaríamos, mas hoje me parece claro que essa experiência coletiva me faz entender melhor o que se passou quando aquela trupe de gênios indômitos capitaneada por Milton Nascimento e Lô Borges, se reuniu pra compor e produzir o enigmático, mas não menos reverenciado, álbum Clube da Esquina.
A experiência coletiva, pra mim, foi uma chave essencial pra tentar interpretar o tamanho e o significado daquela obra. A variedade das músicas, a multiplicidade de referências, o espírito disruptivo e inovador, mas ao mesmo tempo a organicidade, a unidade e o senso de identidade só poderiam ter sido criados num projeto coletivo como aquele, mesmo quando a lógica dos “coletivos” ainda nem era cogitada como estratégia de ação.
Mas também, o que esperar quando se reúne numa casa e num projeto artistas do calibre de Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes, Wagner Tiso, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Fernando Brant, Toninho Horta, Flávio Venturini, Tavito e Alaíde Costa. Ninguém ali era mediano, ninguém era sombra de ninguém, todos construíram um legado e deixaram sua marca na música brasileira, muitos de forma genial.
Mas bem, o motivo principal da indicação da semana é o garoto prodígio desta turma, aquele que antes mesmo dos 20 anos abandonou o Ensino Médio pra se mudar para o Rio e produzir, junto com Milton e com esta constelação de talentos superlativos, este que já é considerado por muitos como o mais importante álbum da história da música brasileira.
Salve Lô Borges, obrigado pela passagem por aqui, teu corpo terreno se foi, mas teu espírito e teu legado artístico ficarão eternizados entre nós.
"Para conhecer mais a história do álbum Clube da Esquina, indico o podcast do Discoteca Básica, que conta os antecedentes, os bastidores e a repercussão do disco".

Renato Santos de Souza
Professor do departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM.
Imagens: Facebook
Edição: Fritz R. Nunes (Sedufsm)
Galeria de fotos na notícia