Feira do Livro e os nossos sonhos
Publicada em
20/08/2025
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Escritores, de modo geral, acreditam que a leitura pode mudar as pessoas para melhor. Isso pode ser uma ilusão, mas não custa sonhar. Leitura é sempre uma aposta na reflexão, na humanização, e isso, na dose certa, pode produzir alguns avanços no sentido da formação pessoal.
A chegada da Feira do Livro de Santa Maria em sua 52ª edição provoca esse tipo pensamento e acende a memória sobre o evento. A leitura tem sido um grande desafio e as dificuldades se acentuam nos últimos tempos com o avanço das redes sociais. É impressionante o número de antigos leitores que sentem a sua capacidade de leitura diminuir (a capacidade de ler textos longos), leitores que sucumbem ao consumo rápido de vídeos e textos nas redes sociais. Em relação aos leitores em formação, então, a situação é terrível. Esses jovens precisam se armar de um esforço hercúleo para enfrentar um livro do início ao fim. Os professores que o digam.
Considerando isso, é sempre um alento a continuidade da Feira do Livro em Santa Maria. Iniciada em 1962, a festa literária teve algumas interrupções (por volta de 1970, no início da década de 1990, no ano 2000 e durante a pandemia), mas sempre retornou com força. Um empenho da coletividade santa-mariense em reunir esforços em prol dos benefícios da leitura.
Em 2001, já constituída a Câmara do Livro local (fundada em 1996), veio com um ímpeto muito forte, que se mantem até hoje. Naquele ano, além do apoio fundamental da Prefeitura Municipal (que permanece – a Feira não existiria sem o Poder Público), passou a contar com a colaboração da 8ª Coordenadoria Regional de Educação, que trouxe uma presença massiva de crianças ao evento, dinamizando ainda mais as ações em prol da leitura infanto-juvenil.
Uma Feira que teve e tem diversos rostos e, mesmo cometendo injustiças, recordo algumas dessas pessoas: a professora Eugênia Barichello, coordenando os seus alunos do Curso de Comunicação da UFSM, em 1995, para a retomada da Feira, após a interrupção do início dos anos 90. O professor Carlos Badke (Bebeto) botando pilha nos seus alunos de Comunicação da UNIFRA (depois Universidade Franciscana) para entrevistarem os autores que lançavam livros, os escritores convidados e mesmo os leitores visitantes.
O Télcio Bresolin, gerente da Cesma e integrante da Câmara do Livro, enfrentando os mais variados problemas da festividade, como a instalação da lona sobre as barracas, os cabos de iluminação e por aí afora. A Rosângela Rechia, funcionária da Prefeitura, coordenando os lançamentos de livros, administrando o espaço dos autógrafos, lidando com a vaidade de escritores e que permanece na trincheira, isto é, atuando na Feira, assim como o Télcio Bresolin. (O professor Bebeto foi demitido da Universidade Franciscana, um episódio incompreensível.)
E, neste ano, mais uma figura se soma a esse mosaico da Feita do Livro de Santa Maria: a do patrono Athos Miralha da Cunha. Um escritor sempre presente no evento, há anos, coordenando livros coletivos no início (como o romance “Os dez mandamentos”, escrito por dez autores) e posteriormente lançando livros individuais de crônicas e contos. Um escritor que ambienta muito da sua ficção em Santa Maria, explora sua paisagem e figuras humanas, criando assim uma representação literária da cidade, o que é sempre bem-vindo.
Vários rostos, muitas facetas de um evento que congrega os sonhos e esperanças de muitos de nós (escritores e leitores): os de que a leitura possa nos tornar melhores. Mais humanos, com maior capacidade de compreensão e tolerância em relação aos outros (contribuindo para a essência do humanismo, podemos dizer). Um sonho muito bom de sonhar.
Sobre o(a) autor(a)
Escritor e professor aposentado do departamento de História da UFSM