Universidade pública não é empresa Publicada em 20/12/2023 2792 Visualizações
Mais uma vez a gestão da UFSM age visando aprovar mudanças na Instituição sem discussão. Em novembro, apresentou o Programa de Gestão e Desempenho (PGD), informando que a proposta seria aprovada neste mês, com implantação em janeiro. Por que a pressa? Para que não haja tempo de debate?
O que está em jogo é mais que a liberação do ponto para servidores/as e a possibilidade de teletrabalho, mas o conceito de universidade pública. Uma Universidade pública tem um papel social diferente de uma Universidade privada. Uma Universidade pública não é uma empresa, não tem “entregas”.
A implantação do PGD na UFSM é apenas mais uma face do que vivenciamos nos últimos anos: uma ataque ao projeto de uma universidade socialmente referenciada, com políticas democráticas e socialmente justas de acesso, financiada com recursos públicos e que, a partir de suas atividades indissociáveis de ensino, pesquisa e extensão, forma pessoas críticas, não apenas mão de obra para o mercado.
Ao se ver como empresa, ao implantar o PGD, a UFSM esquece que o nosso fazer não é de uma ordem quantificável – e as tentativas de quantificação têm se mostrado falhas – é pedagógico.
Temos visto, nas últimas décadas, um pensamento neoliberal que, a partir de um modelo de qualidade empresarial e tecnicista cria testes padronizados e indicadores que provocam o “ranqueamento” de instituições e docentes, aprofundando desigualdades e dando ênfase ao produto. Deixa-se de pensar em processos educativos para se usar princípios gerencialistas. Assim caminhamos para ser Universidades cuja produção científica é dirigida ao mercado – e não às necessidades da comunidade, especialmente as de vulnerabilidade – e cuja formação é de força de trabalho alienada.
Importante ressaltar que o PGD, no governo federal, é opcional. As Universidades não são obrigadas a aderirem. Mas têm usado “o canto da sereia” do fim do ponto eletrônico como argumento para a adesão. Não temos “entregas” na educação, mas já somos avaliados/as e, como dito anteriormente, são avaliações falhas. Nossas produções são ranqueadas e isto tem estimulado um produtivismo estéril. Por outro lado, as avaliações das pós-graduações são parâmetro para avaliação das Universidades.
Ora, o foco em critérios mercadológicos para avaliar a “qualidade” da educação deixa estas instituições aos interesses do capital, desprezando as questões sociais e regionais. Estamos nos tornando universidades produtivistas e não pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Ou damos um basta ou cada vez mais nos equipararemos às privadas –dadoras de aula.
(Artigo publicado no Diário de Santa Maria em 14.12.2023)
Sobre o(a) autor(a)
Por Ascisio Pereira(*) e Márcia Morschbacher(**)* Professor do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, presidente da SEDUFSM; **Professora do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM, vice-presidenta da Sedufsm