Universidade pública não é empresa
Publicada em
20/12/2023
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Mais uma vez a gestão da UFSM age visando aprovar mudanças na Instituição sem discussão. Em novembro, apresentou o Programa de Gestão e Desempenho (PGD), informando que a proposta seria aprovada neste mês, com implantação em janeiro. Por que a pressa? Para que não haja tempo de debate?
O que está em jogo é mais que a liberação do ponto para servidores/as e a possibilidade de teletrabalho, mas o conceito de universidade pública. Uma Universidade pública tem um papel social diferente de uma Universidade privada. Uma Universidade pública não é uma empresa, não tem “entregas”.
A implantação do PGD na UFSM é apenas mais uma face do que vivenciamos nos últimos anos: uma ataque ao projeto de uma universidade socialmente referenciada, com políticas democráticas e socialmente justas de acesso, financiada com recursos públicos e que, a partir de suas atividades indissociáveis de ensino, pesquisa e extensão, forma pessoas críticas, não apenas mão de obra para o mercado.
Ao se ver como empresa, ao implantar o PGD, a UFSM esquece que o nosso fazer não é de uma ordem quantificável – e as tentativas de quantificação têm se mostrado falhas – é pedagógico.
Temos visto, nas últimas décadas, um pensamento neoliberal que, a partir de um modelo de qualidade empresarial e tecnicista cria testes padronizados e indicadores que provocam o “ranqueamento” de instituições e docentes, aprofundando desigualdades e dando ênfase ao produto. Deixa-se de pensar em processos educativos para se usar princípios gerencialistas. Assim caminhamos para ser Universidades cuja produção científica é dirigida ao mercado – e não às necessidades da comunidade, especialmente as de vulnerabilidade – e cuja formação é de força de trabalho alienada.
Importante ressaltar que o PGD, no governo federal, é opcional. As Universidades não são obrigadas a aderirem. Mas têm usado “o canto da sereia” do fim do ponto eletrônico como argumento para a adesão. Não temos “entregas” na educação, mas já somos avaliados/as e, como dito anteriormente, são avaliações falhas. Nossas produções são ranqueadas e isto tem estimulado um produtivismo estéril. Por outro lado, as avaliações das pós-graduações são parâmetro para avaliação das Universidades.
Ora, o foco em critérios mercadológicos para avaliar a “qualidade” da educação deixa estas instituições aos interesses do capital, desprezando as questões sociais e regionais. Estamos nos tornando universidades produtivistas e não pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Ou damos um basta ou cada vez mais nos equipararemos às privadas –dadoras de aula.
(Artigo publicado no Diário de Santa Maria em 14.12.2023)
Sobre o(a) autor(a)
* Professor do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, presidente da SEDUFSM; **Professora do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM, vice-presidenta da Sedufsm