Entidades repudiam fala do médico Eduardo Rolim sobre estupro
Publicada em
04/05/23
Atualizada em
04/05/23 16h48m
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Sedufsm assina nota crítica à manifestação de profissional em programa de rádio

Na tarde desta quinta-feira, 4 de maio, em sessão na Câmara de Vereadores e Vereadoras de Santa Maria, foi lançada oficialmente a nota de repúdio à fala do médico santa-mariense Eduardo Rolim, proferida no último dia 27 de abril, no programa "Sala de Debates" da rádio CDN - pertencente ao grupo Diário. A leitura da nota também marcou a inauguração da campanha "Estupro é Tortura" | Pelo Fim da Cultura do Estupro nas redes sociais.
Até o momento, 51 entidades, entre coletivos, movimentos sociais, grupos de estudos, associações e parlamentares assinaram a carta. A Sedufsm também é uma das signatárias.
No documento, as entidades denunciam o teor violento das falas de Rolim, que afirmou, dentre outras questões, não ser possível estuprar uma mulher que contraia bem suas pernas. Também é criticada a permissividade do programa com as intervenções misóginas do médico e exigida a apuração das falas, um posicionamento do Conselho Regional de Medicina (CREMERS) e a retratação pública de Rolim.
Leia, abaixo, a nota na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO À FALA DO MÉDICO EDUARDO ROLIM SOBRE ESTUPRO
“ESTUPRO É TORTURA” – Ingrid Fuchs
O Brasil é o quinto país do mundo que mais mata mulheres.
Um estupro ocorre em nosso país a cada 2 minutos.
São 822 mil casos de estupro a cada ano!
Nós, mulheres de vários segmentos culturais e sociais integrantes das entidades que assinam esta carta, juntamente com nossos apoiadores, viemos à público manifestar completo repúdio ao ocorrido no Programa Sala de Debate da RÁDIO CDN, do Grupo Diário de Santa Maria, no dia 27 de abril de 2023.
Neste, o comentarista e médico aposentado Eduardo Rolim, fazendo uso de seu título, afirmou que o crime de estupro nem sempre se configura, pois, a vítima “teria condições físico-musculares de o impedir”. Rolim fez, inclusive, uma referência infeliz ao sistema muscular:
“A força de um homem não consegue abrir as pernas de uma mulher que esteja contraída”. Entre outras de suas alegações estão: “Uma coisa que gostaria de comentar em relação ao estupro, é que essas personalidades que estão em evidências, elas são assediadas pelas mulheres que vem e depois os acusam de estupro, quando na verdade é o contrário, elas é que tentaram ou estupraram”.
O caso comentado era de um estupro coletivo perpetrado por 4 jogadores do futebol brasileiro contra uma menina suíça que então contava com 13 anos. São esses 4 homens que, na possibilidade aventada por Rolim, foram estuprados por uma criança de 13 anos!
Vale destacar que na bancada estava a advogada Dra. Ingrid Fuchs, única mulher participante, a qual ficou claramente constrangida pela situação, uma vez que o ambiente foi permissivo com a fala do médico e o âncora não interrompeu a tempo a fala violenta do médico. Anteriormente a advogada havia trazido à tona o fato de que além de crime, o estupro é também reconhecido como forma de tortura e arma de guerra, o seu direito à fala não foi garantido por completo, sendo a mesma interrompida pelo mediador.
Durante o programa, os debatedores advertiram da normalização da violência contra a mulher, trouxeram considerações importantes e relevantes sobre a cultura do estupro, uma vez que diversas considerações feitas pelo médico eram dissociadas da realidade e daquilo que moralmente se espera de qualquer ser humano, e reafirmaram: a vítima não pode ser jamais culpabilizada e imputada à ela responsabilidade em nenhum aspecto.
A grave situação descrita acima merece o nosso repúdio e nossa veemente e intransigente defesa dos direitos e da dignidade de quaisquer mulheres, crianças, pessoas do espectro LGBTQIAPN+ e mesmo homens que tenham sido vítimas de violência sexual.
No dia 28 de abril, a crescente mobilização de mulheres e entidades, de forma individual e coletiva, levou o Grupo Diário a emitir notas sucessivas. Primeiro, defendendo a “liberdade de expressão” e emitindo posicionamento contra a fala de seu comentarista. E, por fim, notificando ao público que o sr. Eduardo Rolim foi afastado de suas atividades como comentarista. Contudo, a emissora agradeceu pelos anos de atuação junto ao canal de comunicação, sem dizer nenhuma palavra de desculpas a sua convidada Ingrid Fuchs. Finalmente, em uma última nota, veio o pedido de desculpas a ela e a outras mulheres que “se sentiram ofendidas”.
Porém, não se trata de ofensa ou de excesso de sensibilidade, entrando na terceira década do século XXI, já não é admissível que meios de comunicação, quaisquer deles, aceitem e tolerem veicular falas que violentam e incitam a violência por sua negação ou relativização. Muito embora se possa alegar que espaços, como o programa Sala de Debate, são popularmente interessantes porque dão lugar ao contraditório, é preciso que a imprensa mantenha seu compromisso com a informação correta, não incite a violência e nada que fira a dignidade humana. O Grupo Diário é uma empresa privada que oferece serviços à comunidade. Alguns desses serviços, como a rádio CDN, são de concessão pública; devendo, portanto, garantir informações de qualidade e o cumprimento da lei.
Nesse sentido, é importante que a empresa reveja e adeque suas regras de participação em seus programas, pois essas práticas já se tornaram reincidentes, inclusive de cunho racista, o que deve ser totalmente rechaçado. Essas falas machistas, desrespeitosas e excludentes proferidas por seus comentaristas não devem ser toleradas. E, quando ditas, sejam prontamente apuradas as condutas na esfera cível e criminal, pois crimes não poderão ser considerados liberdade de expressão. Não é censura combater posicionamentos que banalizam, minimizam, relativizam, e reproduzem meios, modos e ações de violência sexual, objetificação e diminuição do valor humano, em especial, das mulheres e crianças, suas principais vítimas. Este é um perverso traço das estruturas sociais machistas que nos rodeiam.
As entidades aqui signatárias exigem total compromisso com a defesa dos direitos das mulheres – sua vida, dignidade e voz – seja assumido e priorizado pelos órgãos públicos e privados. Para isso, discursos repletos de misoginia, estímulo à violência e opressão, não podem ser tolerados ou reproduzidos nos meios de comunicação. Estes devem ser combatidos à luz da ética e dos direitos humanos. E, nesse sentido, as autoridades Públicas competentes devem investigar as falas de suposta apologia ao estupro proferidas no programa. Bem como, o posicionamento técnico do Conselho Regional de Medicina, CREMERS, sobre o que foi proferido pelo médico, é urgente e necessário. A OAB/SM já encaminhou na tarde desta quinta-feira, 4 de maio de 2023, uma denúncia ao CREMERS.
Um pedido público de desculpas a todas as mulheres já foi feito por parte do Diário de Santa Maria e do jornalista Claudemir Pereira, que estava fazendo a mediação do debate e deixou o médico falar e expressar suas colocações infundadas em relação ao estupro. Contudo, cremos que esse pedido precisa também ser especificado à Dra. Ingrid, pois foi ela a pessoa mais constrangida no momento do episódio. Por fim, também exigimos a retratação pública do Médico Eduardo Rolim, pela violência de gênero cometida e conivência com “possibilidades de estupros”. O ocorrido foi uma violência e por isso essas retratações são medidas que se impõem
Que as mulheres possam ter mais respeito, dignidade e amparo em seus ambientes de trabalho e fala.
ASSINAM ESSA NOTA:
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ACOLHELAS - Atendimento a mulheres vítimas de violência
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ADUFRGS Sindical
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ANEN Articulação Nacional de Enfermagem Negra
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Associação de Arte e Cultura Negra Ara Dudu
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Associação Artístico e Cultural Vila Brasil
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Associação Beneficente e Cultural Africana Ilê Axé Ijobá de Oxum e Bará.
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Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia - Núcleo de Gênero, Diversidade e Igualdade Racial da ABENFISIO
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AGTS Associação Gaúcha dos Trabalhadores da Saúde RS
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Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia - ABMMD RS
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Associação de Juristas pela Democracia
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Associação Rede Unida
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Associação Vida e Justiça em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid 19.
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ASSUFSM - Associação dos Servidores e Servidoras da UFSM
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AGTS Associação Gaúcha dos Trabalhadores da Saúde RS
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Atelier Grupo da Estação
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Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) de Santa Maria Segmento Mulheres e Segmento de Grupos de Cultura e Tradições Afro-brasileiras
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Conselho Municipal dos Direitos da Mulher
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Centro Brasileiro de Estudos de Saúde-Cebes RS
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Coletivo Justiça para Isadora
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Conselho Municipal de Saúde de Santa Maria
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Coletivo de Psicanálise de Santa Maria - CLTVPSM
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Comitê de Igualdade de Gênero da UFSM
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Comitê de Bioética Feminista do Grupo Hospitalar Conceição (GHC)
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Coletivo Raça, Gênero e Diversidade da ASERGHC
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Diretório Central de Estudantes da UFSM - DCE UFSM
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Equipe AMBRA-/ Grupo Nascer Sorrindo Santa Maria
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Fórum de Enfrentamento à Violência contra Mulheres de Santa Maria/Campanha Santa Maria 50-50
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Fórum dos Direitos Humanos, Diversidade e Equidade de Raça e Gênero da Rede Unida
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FEGAMEC - Federação Gaúcha de Associações de Moradores e Entidades Comunitárias
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GEEUM@ - Grupo de Estudos e Extensão Universidade das Mulheres - UFSM
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Grupo Mulheres do Brasil de Santa Maria-RS
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GIDH / UFSM - Grupo de Pesquisa e Extensão em Gênero, Interseccionalidade e Direitos Humanos
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Grupo de Estudos dos Movimentos Feministas. El@s - UFSM
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Instituto Idea Porto Alegre
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Laboratório de Espacialidades Urbanas - UFSM
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Movimento Negro Unificado de Santa Maria-MNU/RS/SM
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Movimento Policiais Antirracistas
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Mulheres Donas de Si
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Mulheres políticas | Vereadoras Marina Callegaro, Helen Cabral, Maria Rita Py, Luci Duartes (tia da moto).|
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Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional do Rio Grande do Sul - Subseção Santa Maria.
-
Pós-graduação em Estudos de Gênero | UFSM
-
Pã Cultural
-
Professores pela Democracia | RS
-
Rede de Mulheres Negras Obirin
-
Seção Sindical de Docentes da UFSM - SEDUFSM
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Seção Sindical dos Técnicos de Nível Superior da UFSM - ATENS
-
Sindicato dos Bancários de Santa Maria e região
-
Sindicato dos Municipários de Santa Maria
-
Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria- SINPROSM
-
Sindicato dos Trabalhadores em Educação - Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul - - CPERS
-
Ubm Caboclas de Concórdia SC.
Edição: Bruna Homrich
Imagem: Italo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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