PEC 38 trará prejuízos às servidoras e servidores e ao serviço público
Publicada em
08/12/25
Atualizada em
08/12/25 16h55m
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Estudo do escritório LBS Advogadas e Advogados detalha os impactos da Reforma Administrativa. Nesta semana, Sedufsm republica uma série de reportagens da CUT que abordam o tema
A PEC 38/2025, atualmente em tramitação no Congresso Nacional, pode seguir direto ao plenário e desmontar carreiras públicas municipais, estaduais e federais, alerta a advogada Camila Cândido, especialista em Direito Público. Mesmo após a retirada de assinaturas de ao menos 31 parlamentares*, consequência da marcha realizada em 29 de outubro, o presidente da Câmara, Hugo Motta, e o deputado Pedro Paulo seguem sinalizando a intenção de levar a proposta diretamente ao plenário, sem debate nas comissões.
A reforma administrativa que avança no Congresso por meio da PEC 38/2025 foi analisada a partir dos impactos que pode causar a servidoras, servidores e à população. Camila apresentou um estudo detalhado sobre os riscos da medida e como ela compromete a qualidade do serviço público.
Ao longo desta semana, a Sedufsm repercute uma série de reportagens e conteúdos produzidos pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que expõem os principais ataques da Reforma Administrativa aos serviços públicos e às condições de trabalho de quem atua no setor.
Leia abaixo o texto completo.
"A PEC quebra a estabilidade e precariza o serviço público"
A advogada reforçou a importância de a sociedade ser contrária à proposta, Camila afirmou que a “PEC quebra a estabilidade e precariza as relações de trabalho, retirando direitos de servidoras e servidores sem oferecer absolutamente nada de melhoria ao serviço público. Ela piora a condição de quem trabalha e impede a ampliação dos quadros. Você não terá nem servidores suficientes, nem servidores valorizados."
A especialista destacou que a ausência de estabilidade transforma a servidora e o servidor em dependente político do governante de plantão. "Sem estabilidade, o servidor deixa de servir ao Estado e passa a servir a governos. Cada mudança de gestão pode virar um troca-troca amplo, desmontando políticas públicas e abrindo espaço para perseguições."
Risco de privatização em larga escala
Para Camila, o desenho da PEC aponta para a substituição progressiva de servidoras e servidores por contratos temporários, terceirizações e vínculos flexíveis:
"O texto limita concursos, submete tudo a metas e resultados e empurra para terceirização tudo o que não estiver em determinado plano de metas. É um projeto que joga o serviço público no colo da privatização”, disse
Ela alertou para o cenário que se formará, caso a proposta seja aprovada. "O serviço público vira um grande mercado. O Estado continuará pagando — mas não ao trabalhador concursado, e sim a empresas intermediárias."
Uma reforma de Estado, não apenas administrativa
De acordo com a advogada, o relatório apresentado pelo deputado Pedro Paulo, com mais de 500 páginas, mostra que a reforma pretende ir além da gestão de pessoal. "É uma reforma de Estado. Acaba com a possibilidade de cada município ou estado ter sua própria legislação de servidores. Tudo passa a ser regulado pela União. Isso distancia o servidor de seu empregador direto e prejudica até a governança local."
Segundo Camila, isso compromete inclusive a democracia municipal e estadual. "Um prefeito não poderá gerir plenamente sua equipe. Nem negociar carreira, nem organizar seu quadro. Isso engessa a gestão e empurra governantes para contratar empresas privadas para executar serviços."
Avaliações, metas e o risco de congelamento salarial
A PEC cria a tabela remuneratória única, com 20 níveis baseados no salário mínimo e no teto do ente federativo. O avanço na carreira dependerá exclusivamente de avaliações de desempenho.
"O problema não é ser avaliado. Servidores já são avaliados. O problema é que avaliação pode virar instrumento de perseguição. Em muitos locais, a gestão simplesmente deixa de avaliar para não pagar progressão", afirmou a especialista
Além disso, o novo bônus por resultado aprofunda desigualdades internas. "Mesmo que oito dos dez servidores batam metas, só três podem receber, porque o bônus é limitado ao valor de um 13º da folha. Quem ganha mais leva mais bônus. É um modelo injusto e adoecedor".
Extinção de direitos apresentados como ‘privilégios’
Um dos eixos da PEC, segundo o deputado Pedro Paulo, seria o combate a privilégios. Mas, na prática, explica Camila, o alvo real acaba sendo o conjunto do funcionalismo.
“Ele mirou no servidor do alto escalão e acertou principalmente os servidores municipais e estaduais. Gratificações por tempo de serviço — como quinquênios e sexta-parte — desaparecem. Essas vantagens foram criadas justamente para evitar evasão e garantir carreiras longas e qualificadas", disse a advogada.
Impacto direto nos serviços usados por toda a população
A advogada reforçou que o ataque às carreiras não prejudica apenas servidoras e servidores. "Quando você destrói estabilidade, carreira e formação contínua, você destrói a escola pública, o posto de saúde, o serviço essencial. A população perde qualidade e continuidade."
Ela cita estudos internacionais para embasar sua afirmação. "Os países que têm melhores resultados em educação investem na carreira e na permanência dos professores. Onde a força de trabalho é precarizada, o desempenho cai. Isso vale para saúde, assistência, fiscalização, tudo."
“O que está colocado é a redução de direitos, a ampliação da precarização e a entrega de serviços públicos para empresas. Nada ali melhora a vida de quem usa o serviço público, que é a sociedade brasileira”, afirma Camila.
*Número atualizado em 8 de dezembro de 2025.
Texto: CUT (com edição de Nathália Costa)
Imagem: CUT
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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