“Pandemia mostrou importância social da escola”
Publicada em
22/05/20
Atualizada em
15/07/20 12h43m
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Professora municipal atesta problemas das comunidades com o fechamento de escolas

Por muito tempo, a maioria da população pensou que a escola não tinha tanta importância, que as professoras poderiam ser substituídas por aulas on-line, ou ainda, por estudos domiciliares. Hoje, com toda a minha força, falo da importância social que tem a escola, que tem mostrado o quanto ela é importante neste momento. Com o fechamento das escolas, observamos o impacto que isso teve nas comunidades periféricas. O depoimento à assessoria de imprensa da Sedufsm é de Caroline Silva dos Santos, 36 anos, professora de séries iniciais na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) João da Maia Braga, no bairro Passo das Tropas, região sul de Santa Maria. Ela também é aluna do doutorado em Educação da UFSM, casada, e mãe de uma garota de 11 anos.
E quais os tipos de impactos que o fechamento de escolas, a partir da necessidade de distanciamento social em função do coronavírus causou? Caroline avalia que “sem escola, as crianças ficam sem refeições diárias, sem espaços pedagógicos de socialização, sem espaços onde elas possam se expressar e muitas vezes fugir da violência que sofrem em casa”. Para ela, a pandemia está mostrando o impacto social e o que significa a escola, o processo de ser e estar no mundo das crianças, dos jovens e adultos. “O isolamento tem nos causado muitos problemas, mas acredito que o pior deles ainda é a falta de contato humano”, assegura a docente.
Questionada sobre como está encarando o período de isolamento social, Caroline ressalta que “este período tem sido bem difícil, pois sou uma pessoa que vive a escola intensamente. Gosto de estar com as crianças, brincar com elas, abraçar, pegar no colo, andar pela comunidade, conversar com as crianças. E devido ao isolamento, tudo isso tem sido impossível, pois toda vez que saio de casa, já saio de máscara. Muitas crianças me conhecem, mais pelo meu carro do que por ver meu rosto”. E acrescenta: “posso dizer que tenho muitas saudades. Da vida que pulsa na minha escola. Tenho saudades das conversas, do barulho das crianças correndo no recreio. Tenho saudade até do toque do sinal”.
Atividades virtuais
Uma das interrogações feita a ela é também sobre se, em âmbito municipal, está ocorrendo o repasse de conteúdos virtuais a alunos e alunas. A professora diz que “ainda não começamos a desenvolver nenhuma atividade virtual. Nosso trabalho tem sido ligar para as famílias, conversar com elas, visitar, com os devidos cuidados, aquelas que não têm nenhum tipo de acesso, para depois buscar pensar em estratégias de trabalho”.
Caroline enfatiza que “neste momento, o que menos importa são os dias letivos ou conteúdos a vencer. Temos pensado muito em como nos tornar mais humanos”. E assevera: “observamos, nos primeiros contatos, que as famílias e as crianças, precisam ouvir nossa voz, precisam perceber que nos preocupamos com elas, precisam apenas perceber que estaremos juntos neste momento. O conteúdo principal neste momento é o amor, a empatia”.
A docente explica que na EMEF em que leciona tem um grupo social heterogêneo, com famílias em que os pais trabalham, e assim os filhos são bem assistidos. Outras, no entanto, em que as condições são bem precárias. Em relação à postura do Executivo em relação a cobrar ou não conteúdo do alunado, Caroline explica que a relação tem sido tranquila, sem pressão para que atividades sejam feitas na forma virtual.
Apoio às famílias
Segundo ela, a gestão da escola tem trabalhado incansavelmente para tentar suprir algumas das demandas da comunidade. “Nosso principal foco é a alimentação, pois temos muitas famílias que trabalham na informalidade e que neste momento estão sem trabalho”. Então, diz Caroline, “começamos com a entrega de algumas cestas básicas, depois fizemos um mapeamento das famílias para saber como elas estão, o que estão precisando neste momento, e se as famílias têm acesso a meios digitais. Após este mapeamento, começamos a pensar em um possível trabalho com as famílias”.
Sobre o papel da prefeitura, ela diz que o município tem ajudado no sentido da formação dos professores e das equipes diretivas. “Estamos neste momento tão difícil tentando nos reinventar, pois as crianças e suas famílias vão precisar ainda mais do nosso trabalho, mesmo que a distância”.
Perguntada se os alunos e suas famílias estão preparados para enfrentar a pandemia da Covid-19, Caroline avalia que “algumas famílias têm um certo preparo, mas a grande maioria não. Na verdade, nenhum de nós está preparado. Acredito que teremos que aprender uns com os outros”.
Texto: Fritz R. Nunes
Fotos: Arquivo Pessoal
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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